CESEM.IPL | Performance e Contexto | Portfolios | MusicEd
Obras | Compositores
No seguimento da peça Carta a Kundera (escrita em 2007), Cartas a Mia (2012) representa a minha segunda homenagem a um escritor que, de uma forma mais ou menos indireta, tem estado presente na minha vida artística.
Mia Couto é natural de Moçambique e escreve, entre muitas outras coisas, acerca das lendas, motivações, depressões e sonhos do povo da sua terra.
Estas cartas não têm a intenção de ser descritivas mas… cartas. Como quem escreve uma carta a uma outra pessoa, estas falam mais do remetente do que do destinatário.
Para cada um dos primeiros 4 andamentos, inspirei-me em pequenas frases retiradas de diferentes livros de Mia Couto, completamente removidas do seu contexto original. O meu interesse nestas pequenas linhas foi principalmente fonético. Assim:
I. – …nem barulho nem era.
II. – …divagar, devagar…
III. - …se cintilhaçou em mil estrelinhações.
IV. - …o silêncio é música em estado de gravidez.
V. – Nota do tradutor
“...from the last breath”
Nasce graças a uma série de acontecimentos negativos pela qual atravessei no de 2013 e 2014. Esta quer retratar um vasto número de sentimentos como sofrimento, dor, desespero; mas também mostrar uma que é possível erguer e continuar.
A peça conta com três secções interligadas entre elas: Primeiramente com uma parte lenta no início onde pretendo demostrar a instabilidade, o sentimento de sofrimento e dor. No entanto, ainda nesta secção uma “luz” ao fundo do túnel faz-se ver. Na segunda secção, uma parte contra-estante que mostra a sensação de ansiedade e inquietação. Finalmente a última secção onde pretendi retratar então uma imagem positiva, de continuação.
Mercutio é um trio de percussão encomendado pelos MerakTrio para a prova final de música de câmara nível superior do PJM 2019.
Depois de Falstaff que deu corpo a um duo, Mercutio é agora a obra no seu seguimento.
Personagem de Romeu e Julieta de Shakespeare, Mercutio é tempestuoso, temperamental e sexual.
Um bon vivant com um fim repentino e prematuro.
Falstaff surge enquanto primeira obra escrita e apresentada no âmbito do curso de composição da Escola Superior de Música. É uma obra com uma envolvência muito pessoal pois marca, por assim dizer, a transição entre os meus estudos em percussão e o novo caminho, muito recente, da composição.
Vinda da minha relação com o teatro, é uma obra para 2 percussionistas com uma narrativa desconstrutiva baseada na personagem Shakespeareana “Falstaff”.
Esta peça procura expor diferentes partes do dia de um indivíduo que se vê como uma peça de uma grande máquina, a Cidade.
Redefinition…
Nos momentos que antecederam à sua composição, estava nas salas de percussão da Escola Superior de Música de Lisboa a experimentar/improvisar em alguns dos instrumentos que lá estavam. Quando toquei no brake drum apercebi-me que o som resultante era muito interessante e rico, por isso gravei-o e analisei-o. A diversidade, na análise, do som era completamente brilhante, assim retirei algumas das notas do espectro e usei-as como principais notas da obra. No piano construí, a partir daquelas notas, acordes, melodias e contraponto. O início da obra é a combinação entre o som real, descoberto naquele dia nas salas de percussão, juntamente com a fundamental da série dos harmónicos resultante daquele som gravado. Todas as notas seguintes são resultantes da primeira nota, ou fundamental. Por outro lado, a obra possui um carácter teatral onde é pretendido mudar a imagem que recebemos, mas manter o núcleo da fonte sonora no mesmo sítio. Para isso, os percursionistas, solistas, deslocar-se-ão pelo e fora do palco para criar esta ilusão. Ainda, a rotatividade e inacabamento das coisas: nunca nada está concluído, podemos pensar que sim numa determinada altura, mas a nossa percepção poderá mudar, ou não, ao longo do tempo.
Daniel Davis
Prana (sopro de vida) é, segundo as antigas escrituras da filosofia hindu, a energia vital universal que premeia o cosmos, absorvida pelos seres vivos através do ar que respiram. Acredita-se que utilizando vários gestos respiratórios, afim de exercitar e controlar a respiração, é possível controlar a fluidez da energia vital atingido determinados estados de espírito. Traduzir este arquétipo para um discurso musical foi umas das principais energias impulsionadoras para criação destas peça. A sua estrutura foi definida através de diferentes gestos esboçados com intuito de imitar um exercício respiratório, que se configura através de uma espécie de tensão (inspiração), distensão (expiração). Ao contorno (gesto global) que daí resulta e que se repete é aplicado um processo de variação, baseado na conjugação de elementos constantes com elementos variáveis. Este processo pode ser observado a uma micro escala ( dentro de uma secção) bem como a uma macro-escala (entre diferentes secções).
“Positive messages in a falling apart world” vem da minha análise e ponto de vista, num sentido mais global, acerca do mundo em que vivemos. Proponho-me a criar uma narrativa que entrelaça momentos catastróficos com pontos de luz que criam serenidade, tal como momentos de alívio e felicidade num mundo em constante degradação e guerra. Por isso baseei a peça num poema de Fernando Pessoa que retrata em pleno esta visão, quando “em plena vida e violência (…) a mente já desperta da noção falsa de viver”, “vê que pela janela aberta há uma paisagem toda incerta, um sonho todo a apetecer”.
Philippina é uma dedicatória ao corpo vivo. Ao seu movimento. À sua capacidade de nunca ficar estático por completo. Todos os gestos musicais presentes querem refletir uma imagem de dois bailarinos e a sua linguagem corporal, a sua luminosidade.
Philippina Bausch foi a minha companhia. O maestro Alberto Roque, o João e o Marco, a minha certeza. A eles dedico esta revolução em mim.
Esta peça faz parte de um estudo que tenho vindo a desenvolver sobre gesto musical, com o tema: “Gesto – a Música sobre um plano coreográfico”. O objecto artístico final terá dois bailarinos em palco, acompanhados pelos solistas e pela orquestra.
A obra Sopro do Côncavo foi composta no âmbito do III Concurso Nacional de Composição da Banda Sinfónica Portuguesa tendo sido posteriormente premiada e dirigida na sua estreia pelo Maestro Pedro Neves, na Sala Suggia da Casa da Música, no Porto, em Fevereiro de 2015. [em 2017 a obra foi revista pelo compositor.] De uma perspetiva muito abstrata e direcionada para a forma da peça, assistimos três momentos que refiro nestas breves notas pela importância que eles representaram para mim na estrutura poética da obra. Inicialmente o vazio que nos leva à profundidade seguida por uma panorâmica de tensão. Concretizado o nascimento da peça, ouvimos um sopro, ganhamos a coragem para proferir o verbo, somos vivos e enérgicos. No fim, contraímos o peito para dentro, pouco a pouco voltamos atrás no tempo e morremos sozinhos, como era princípio (…). Sopro do Côncavo é um olhar sobre a criação, sobre a existência que parte deste vazio despido de conforto. Uma busca eterna pela solidão que reflete o ascendente mais nobre que há em nós. Sopro é a coragem para existir e a vontade de exprimir a poesia. Côncavo é o espaço que fica por detrás da origem, é a profundidade e a nova dimensão.
Pedro Lima Soares