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Redefinition…
Nos momentos que antecederam à sua composição, estava nas salas de percussão da Escola Superior de Música de Lisboa a experimentar/improvisar em alguns dos instrumentos que lá estavam. Quando toquei no brake drum apercebi-me que o som resultante era muito interessante e rico, por isso gravei-o e analisei-o. A diversidade, na análise, do som era completamente brilhante, assim retirei algumas das notas do espectro e usei-as como principais notas da obra. No piano construí, a partir daquelas notas, acordes, melodias e contraponto. O início da obra é a combinação entre o som real, descoberto naquele dia nas salas de percussão, juntamente com a fundamental da série dos harmónicos resultante daquele som gravado. Todas as notas seguintes são resultantes da primeira nota, ou fundamental. Por outro lado, a obra possui um carácter teatral onde é pretendido mudar a imagem que recebemos, mas manter o núcleo da fonte sonora no mesmo sítio. Para isso, os percursionistas, solistas, deslocar-se-ão pelo e fora do palco para criar esta ilusão. Ainda, a rotatividade e inacabamento das coisas: nunca nada está concluído, podemos pensar que sim numa determinada altura, mas a nossa percepção poderá mudar, ou não, ao longo do tempo.
Daniel Davis
Philippina é uma dedicatória ao corpo vivo. Ao seu movimento. À sua capacidade de nunca ficar estático por completo. Todos os gestos musicais presentes querem refletir uma imagem de dois bailarinos e a sua linguagem corporal, a sua luminosidade.
Philippina Bausch foi a minha companhia. O maestro Alberto Roque, o João e o Marco, a minha certeza. A eles dedico esta revolução em mim.
Esta peça faz parte de um estudo que tenho vindo a desenvolver sobre gesto musical, com o tema: “Gesto – a Música sobre um plano coreográfico”. O objecto artístico final terá dois bailarinos em palco, acompanhados pelos solistas e pela orquestra.
A obra Sopro do Côncavo foi composta no âmbito do III Concurso Nacional de Composição da Banda Sinfónica Portuguesa tendo sido posteriormente premiada e dirigida na sua estreia pelo Maestro Pedro Neves, na Sala Suggia da Casa da Música, no Porto, em Fevereiro de 2015. [em 2017 a obra foi revista pelo compositor.] De uma perspetiva muito abstrata e direcionada para a forma da peça, assistimos três momentos que refiro nestas breves notas pela importância que eles representaram para mim na estrutura poética da obra. Inicialmente o vazio que nos leva à profundidade seguida por uma panorâmica de tensão. Concretizado o nascimento da peça, ouvimos um sopro, ganhamos a coragem para proferir o verbo, somos vivos e enérgicos. No fim, contraímos o peito para dentro, pouco a pouco voltamos atrás no tempo e morremos sozinhos, como era princípio (…). Sopro do Côncavo é um olhar sobre a criação, sobre a existência que parte deste vazio despido de conforto. Uma busca eterna pela solidão que reflete o ascendente mais nobre que há em nós. Sopro é a coragem para existir e a vontade de exprimir a poesia. Côncavo é o espaço que fica por detrás da origem, é a profundidade e a nova dimensão.
Pedro Lima Soares
Inspirado no conto de Rubem Fonseca, “Henri”, o que aqui temos é uma variação desse mesmo conto.
Paris ocupada (1940) e Henry, o homem que não pode escapar a quem é.
O que nele habita não o deixa fugir, mesmo se há uma psicanalista que pode (ou poderia) servir-lhe de espelho redentor.
Sucede que quem mata e faz desse ofício a meticulosa tarefa de mergulhar dentro de si, não pode encontrar redenção.
É Henry, o florista. Ou de certo modo (ou de modo muito muito certo), somos nós todos: por detrás da aparente fragilidade que temos (as flores são essa fragilidade), vive em nós, neste tempo veloz e de rapina, o monstro que habita Henry.
Esta ópera foge, por isso mesmo, às convenções: é sobre uma figura moderna mas esquecida, o serial killer, o homem-monstro que, na sua ocupação diária, prova que estamos longe da humanidade que foi nossa um dia.