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Saudade, nem sei bem por onde começar ou explicar o seu significado.
O poema de Tiago Gonçalves Pereira que utilizei para escrever esta canção tem como tema o título desta peça e é descrito como um sentimento que se expressa de diferentes maneiras, inclusive nos momentos mais inesperados. Para mim, a Saudade é sem dúvida uns dos sentimentos mais belos no ser humano, mas também pode ser melancólica, quando o sentimento é a ausência de alguém.
Ao escrever esta canção procurei retratar musicalmente o seu conceito através da procura de diversas sonoridades e timbres, que permitissem criar diferentes momentos musicais, como momentos líricos ou dramáticos e dessa forma tentar expressar as diferentes manifestações da Saudade, entre as vozes e os instrumentos.
Esta peça tem um enorme significado para mim, pois é dedicada aos meus dois avôs que já faleceram. Nesta peça está contida a minha expressão de Saudade por eles. Mas por outro lado, esta peça também marcou o início da procura de uma nova linguagem musical e por essa razão tive um enorme prazer em escrevê-la e sem dúvida tem um grande valor pessoal.
João Fonseca e Costa
Inspirado no conto de Rubem Fonseca, “Henri”, o que aqui temos é uma variação desse mesmo conto.
Paris ocupada (1940) e Henry, o homem que não pode escapar a quem é.
O que nele habita não o deixa fugir, mesmo se há uma psicanalista que pode (ou poderia) servir-lhe de espelho redentor.
Sucede que quem mata e faz desse ofício a meticulosa tarefa de mergulhar dentro de si, não pode encontrar redenção.
É Henry, o florista. Ou de certo modo (ou de modo muito muito certo), somos nós todos: por detrás da aparente fragilidade que temos (as flores são essa fragilidade), vive em nós, neste tempo veloz e de rapina, o monstro que habita Henry.
Esta ópera foge, por isso mesmo, às convenções: é sobre uma figura moderna mas esquecida, o serial killer, o homem-monstro que, na sua ocupação diária, prova que estamos longe da humanidade que foi nossa um dia.
Em Memória | Okiya Flor, livremente inspirada no livro Memórias de uma Gueixa de Arthur Golden, realiza-se uma síntese dramática e poética das memórias de uma rapariga japonesa de olhos claros – a Aprendiza –, que perdeu a família no incêndio da sua aldeia e que, sem que lhe fosse dada escolha, foi admitida numa casa de gueixas (Okiya), pela respetiva proprietária e gerente – a Mãe. Na Okiya, a mais experiente (também a mais rentável) e mais bonita gueixa de todas – a Gueixa – vê a sua posição ameaçada por essa rapariga, que, com os seus tão raros olhos de água, poderá facilmente substituí-la, também na preferência do melhor cliente (e homem mais poderoso da região) – o Senhor -, o que vem a suceder. Porém, enquanto a Gueixa ama um jovem – o Rapaz – que não tem meios para a emancipar, mas com quem se encontra sem permissão, a Aprendiza apaixona-se pelo Senhor, acabando igualmente por ser preterida. Ambas se apercebem, então, da sua condição e, verdadeiramente, do valor da vida e da morte.
Peça para saxofone alto, soprano e electrónica, com origem no ambiente que a garagem da ESML nos oferece. A partir do seu som característico tomado como base da peça, surge o saxofone que desenvolve algum desse espectro harmónico como solista ou como instrumento ressonante proveniente da eletrónica.
Megarag nasce de uma desordem de ideias e perguntas simultâneas. O texto de Sophia de Mello Breyner Andersen – Exílio, encaixa na perfeição no turbilhão de pensamentos e interrogações que na altura questionava.
Nota: Existem duas versões, ambas são para saxofone alto, voz soprano e electrónica. A primeira versão tem as vozes manipuladas e integradas na electrónica, e a versão mais longa as vozes são recitadas ao vivo e escritas com rigor na partitura, tendo ainda mais duas “secções” que a versão curta.
Magnum Mysterium é um canto responsorial das matinas natalícias, que fala sobre o grande mistério e maravilhoso sacramento que é o nascimento do Senhor Jesus Cristo. Foi a primeira peça que escrevi para Coro a capella e através da procura de diversas harmonias e de um som homogéneo entre as vozes do coro, tento retratar esse grande acontecimento histórico da Bíblia.
João Fonseca e Costa
Pequena peça composta no âmbito da disciplina de composição com o Professor João Madureira em 2015. Nesta peça foi trabalhada a técnica dos modos de transposição limitada de Olivier Messiaen. Está dividida em duas partes: a primeira é baseada no primeiro modo, e a segunda parte é baseada na sua transposição. Fernando Pessoa neste poema “ensina-nos” a amar todos os momentos e recordações da nossa vida, sendo esses momentos bons ou maus. A peça no geral tem um ambiente calmo e misterioso com o intuito e intensificar a mensagem do poema: a vida é algo que não sabemos o que virá, mas que a devemos aproveitar ao máximo. “O passado pode ensinar, mas não pode ser vivido de novo. O futuro pode ser construído, mas só será vivido quando virar presente”.
Evandro Meneses
Entre o sono e o sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre —
Esse rio sem fim.
Fernando Pessoa, in “Cancioneiro”
Catarina Bispo