Breve Reflexão sobre O Jardim
Breve Reflexão sobre “O Jardim”
1ª Parte – Descrição e Reflexão sobre a montagem da Ópera
O presente texto tem como objetivo a reflexão sobre o processo de montagem e produção da Ópera “O Jardim”, estreada em novembro de 2017 no Auditório Vianna da Mota na Escola Superior de Lisboa (ESML), assim como referir de que modo é que as interações entre os diversos intérpretes e intervenientes contribuíram para o resultado final da estreia.
A composição da Ópera “O Jardim” data de 2010 período coincidente com a conclusão da minha Licenciatura em Composição na Escola Superior de Música sob orientação do Prof. Carlos Marecos.
Nos primeiros meses de 2017 a Ópera foi selecionada para integrar o Projeto de Produção de Ópera num Contexto Criativo Contemporâneo da Escola Superior de Música de Lisboa com o apoio do Instituto Politécnico de Lisboa que financiou a criação dos figurinos. Por já existir da minha parte um conhecimento prévio tanto do trabalho artístico como da pessoa a escolha acabou por recair na estilista Ana Duarte (estilista da marca Duarte).
A primeira fase da produção da Ópera decorreu entre Abril e Maio de 2017 e culminou com a estreia da segunda cena da Ópera na Semana da Composição da ESML e teve como objetivo primeiro a criação de um período de experimentação e reflexão prática sobre o libreto/ação, a própria estrutura do texto, e ainda uma primeira abordagem ao texto musical, aos problemas e desafios colocados ao intérpretes e algum trabalho de revisão não só da partitura ao nível da escrita para voz como orquestração.
Esta fase foi, a meu ver, muito importante porque permitiu de uma forma imediata “vislumbrar” o resultado musical final da segunda cena e ainda ter um produto artístico concreto sobre o qual foi possível debater, mais tarde, a conceção das personagens de uma forma mais detalhada sob diversos aspetos: a caracterização psicológica das personagens, um possível cenário (ou envolvente cénica), aspetos relacionados com os figurinos – materiais, corte, conceito.
A segunda fase da produção da Ópera decorreu entre os meses de setembro e novembro de 2017.
O trabalho de revisão da partitura que a segunda cena exigiu em abril foi retomado para as duas cenas restantes no meses que antecederam a estreia da Ópera completa (em novembro). Mais uma vez, as alterações feitas em relação à versão de 2010 estiveram relacionadas com aspetos de orquestração ou pequenos pormenores relacionados com a voz dos intérpretes no sentido de procurar maior conforto para os mesmos. De referir que o barítono Francisco Henriques tomou o lugar do barítono Tiago Amado Gomes que tinha estado envolvido na primeira fase do projeto. Houve também algumas alterações no ensemble instrumental em relação à constituição do ensemble em maio.
No que diz respeito ao trabalho de encenação houve desde cedo uma grande convergência no que diz respeito à visão do que seria uma possível leitura do libreto e à sua transposição para o palco. Esta leitura inicial foi discutida entre mim e a encenadora Sílvia Mateus que depois a desenvolveu tendo em conta também a criação do espaço cénico/cenário.
É também bastante importante salientar que houve uma troca de opiniões e informações bastante regular entre mim e o Prof. Carlos Marecos (que dirigiu o Ensemble instrumental) o que permitiu um trabalho musical bastante pormenorizado com o Ensemble o que, obviamente, se tornou uma mais valia para o resultado final.
2ª Parte Breve apontamento sobre “O Jardim”
Este texto tem como objetivo refletir sobre a composição da Ópera “O Jardim” assim como a reposição da mesma no Palácio Nacional da Ajuda em fevereiro de 2018 no contexto do Projeto de Criação, Circulação, Registo áudio e Edição de Partituras de Música Portuguesa Contemporânea numa perspectiva reflexiva.
O libreto da Ópera “O Jardim”, escrito por António Carlos Cortez, parte do conto de Rubem Fonseca ”Henri” do livro de contos “Os Prisioneiros” de 1963 e conta a história de um florista serial killer que seduz mulheres para depois as assassinar de um modo bastante particular. As personagens que estão previstas são Henry (a personagem principal), Madame e a Doutora (a psicóloga de Henry, que pode ou não estar em palco e que para estas récitas se optou por ter presente em palco).
Do ponto de vista da estrutura macroformal, a peça divide-se em quatro cenas precedidas de um prelúdio para viola solo que tem função de abertura e intercaladas (nomeadamente entre a primeira e segunda cenas) por um breve interlúdio instrumental. No que diz respeito à ação é possível dizer que a primeira metade da ópera se centra na apresentação da personagem e, em seguida, na sugestão do homicídio de Madame enquanto a segunda metade está mais ligada ao universo psicológico e interior de Henry. Esta divisão tem um reflexo ao nível da orquestração: na primeira metade da ópera é mais luminosa e densa na primeira metade da ópera enquanto na segunda cena se torna mais neutra (terceira cena) e mais escura (quarta cena).