Multidão II - Vera

Miguel Diniz

Informação adicional

  • Media:
  • Partitura: Multidão II - Vera
  • Compositor(a): Miguel Diniz
  • Ano de Composição: 2017
  • Instituição/Pólo: Escola Superior de Música de Lisboa
  • Categoria: Ópera/Teatro Musical
  • Instrumentação detalhada:

    Contratenor/1(afl).0.1(bcl).0.0/1.0.0.0/1perc/hrp/1.1.0.1.1

  • Duração Total: 15'00"
  • Duração: 10 - 15 min
  • Intérprete(s):

    Rui Vieira - contratenor
    Ensemble - dir. Diogo da Costa Ferreira

Este projecto surgiu da vontade em executar uma obra para contratenor diferente do repertório praticado habitualmente por este tipo de voz. Ao longo da investigação realizada com esse objectivo, constatámos a diminuta produção de obras contemporâneas de autores portugueses – as únicas com que nos cruzámos escritas especificamente para contratenor foram a ópera “Das Märchen” de Emmanuel Nunes, estreada no Teatro Nacional de São Carlos a 25 de Janeiro de 2008, em que a personagem Fogo-Fátuo foi interpretada pelo cantor de origem inglesa Andrew Watts, e a ópera “Os Dias Levantados” de António Pinho Vargas, estreada nesse teatro a 25 de Abril de 1998, com o cantor Nicolau Domingues na interpretação de Anjo. Assim, foi feito um convite a compositores do departamento de composição da Escola Superior de Música de Lisboa para escreverem uma obra com este fim. Pedro Finisterra, Miguel Diniz e Diogo da Costa Ferreira responderam ao desafio, aos quais se juntou o escritor Nuno Cruz, colaborador habitual de Pedro Finisterra, que escreveu o libreto. A história fala-nos de Rui, um rapaz com problemas de esquizofrenia e múltiplas personalidades, e do seu percurso pela vida em convívio com as várias “vozes” que tem dentro de si. Dessas vozes destacam-se três, exploradas pelos compositores em cada uma das três partes do libreto: Pedro Finisterra em “Primeiro”, Miguel Diniz em “Vera” e Diogo da Costa Ferreira em “Aquele”. Com este projecto pretende-se estimular a criação de obras para voz de contratenor, enriquecendo o repertório que habitualmente se costuma interpretar.

Rui Vieira, Outubro de 2018

A propósito de Multidão II - Vera

Sinopse

Entramos num ensaio geral, a preparação para um espetáculo que Rui há muito antecipava. O palco seria dele por uns momentos, e conseguia já imaginar a futura interpretação… O som, a música, o silêncio, seriam todos dele, a independência pela qual ele trabalhara durante tanto tempo. A multidão estaria lá para o aplaudir, essa ideia dava-lhe forças para continuar. Mas ele estava nervoso, tão nervoso, nunca tinha feito isto antes, não sozinho. Seria a altura dele brilhar, independentemente do medo que o pudesse assaltar neste preciso momento…

Nuno Cruz, Outubro de 2018

 

Texto reflexivo

Vera é o segundo acto do monodrama Multidão e explora a personalidade autoritária e altiva de Rui, assim como a personalidade mais frágil e mais indefinida que representa o seu stress. É deste contraste, e das semelhanças que nele se encontram que surge o material de génese para este acto, onde todos os elementos musicais são desenvolvidos a partir da assinatura musical de Vera (C-E-Db) que por sua vez não é mais do que uma expansão do que seria a de Rui (D-C#), assinaturas estas que se assumem como a representação musical da essência de cada uma das personagens. Rui, representado pelo do passus duriusculus (figura retórica que apresenta um contexto dramático através de meio tom) dá lugar à confiante Vera, cujo motivo está construído através de da inversão do motivo de Rui intercalado por um exclamatio (salto retórico ascendente representativo de uma exclamação) de forma a garantir o carácter excêntrico mas seguro da personagem feminina.
Estruturado através dos contrastes do próprio texto, este andamento faz esta forma recurso à técnica de leitmotiv para representar cada uma das suas personagens, mas também para as suas acções e sentimentos. Um dos grandes desafios na composição desta obra e que se tornou preocupação constante na minha escrita foi o facto de haver apenas um cantor no palco, com as suas características vocais muito específicas, mas uma multiplicidade de personagens. Este é o andamento em que o ouvinte é praticamente convidado a esquecer que estamos perante um devaneio de loucura e a sentir Vera como a redenção, estabilidade e amor. Foi nesta perspectiva que procurei manter um equilíbrio entre as melodias expressivas e o contraste com as linhas mais instáveis através da fluidez de gestos, pois considero muito importante manter presente a noção de que cada personagem desta obra é não mais do que um exagero crescente de pequenos traços de uma só pessoa, que procuram a todo o momento tornar-se independentes. Assim, apesar de nunca surgir fisicamente durante o andamento, a presença da personagem Rui é fulcral e indissociável de toda a acção musical tanto pelas constantes referencias textuais e musicais a esta personagem mas também pela forma como cada elemento musical procura constantemente ganhar a atenção do ouvinte, nesta busca incessante pela primazia, pela necessidade de existir para além do elemento gerador, e ainda assim sempre em sintonia com o mesmo.

Miguel Diniz

 


 Toda a Ópera

Multidão I - Primeiro
Multidão II - Vera
Multidão III - Aquele

 

Miguel Diniz

Natural de Lisboa, completou a licenciatura em piano em 2008 estudando com os professores Filipe Pinto-Ribeiro e Rosa Maria Barrantes, tendo frequentado masterclasses do instrumento com diversos professores dos quais se destacam Eldar Nebolsin e Liudmilla Roschina. Em 2011 completou a segunda licenciatura, em composição, com os professores Christopher Bochmann e Pedro Amaral. Desde então tem composto diversas obras originais e ar-ranjos para coro e ensembles, algumas já estreadas no estrangeiro. Tem recebido diversas encomendas para escrever música para orquestra e coro com diversos ensembles em Portugal. Desde 2010 participa em diversas masterclasses de direcção coral, em especial o CIPC Vocalizze e o CIMV de Aveiro nos quais trabalhou com os maestros Stephen Coker, Eugene Rogers, Cara Tascher, Paulo Lou-renço e Gonçalo Lourenço. Tem desenvolvido uma extensa activida-de nesta área trabalhando com diversos coros e ensembles instru-mentais, vários deles fundados por si. Este ano, participou na grava-ção de um CD com o Coro Autêntico e o Quarteto de Guitarras da Esart, que inclui a sua obra “Requiescat”. Tendo, em 2012, por razões profissionais interrompido o mestrado em composição na ESML onde completou o primeiro ano com o professor António Pinho-Vargas, estuda agora na Royal Holloway University of London onde está a fazer o mestrado em composição tendo sido escolhido para um projecto de compositor em residência na galeria de arte desta universidade.

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