CESEM.IPL | Performance e Contexto | Portfolios | MusicEd
Obras | Compositores
A peça em questão será “Puis qu’en oubli”, da autoria de Guillaume de Machaut (ca. 1300–1377). A obra original vai sendo gradualmente transfigurada em algo que pouco (ou nada) tem a ver com o seu material de origem, modificando-se, distorcendo-se, expandindo-se… enfim… sabe-se lá que caminho a música seguirá daqui em diante… ou melhor… sabe-se… ou não… ou sim… ou não…
João Llano
A obra Sopro do Côncavo foi composta no âmbito do III Concurso Nacional de Composição da Banda Sinfónica Portuguesa tendo sido posteriormente premiada e dirigida na sua estreia pelo Maestro Pedro Neves, na Sala Suggia da Casa da Música, no Porto, em Fevereiro de 2015. [em 2017 a obra foi revista pelo compositor.] De uma perspetiva muito abstrata e direcionada para a forma da peça, assistimos três momentos que refiro nestas breves notas pela importância que eles representaram para mim na estrutura poética da obra. Inicialmente o vazio que nos leva à profundidade seguida por uma panorâmica de tensão. Concretizado o nascimento da peça, ouvimos um sopro, ganhamos a coragem para proferir o verbo, somos vivos e enérgicos. No fim, contraímos o peito para dentro, pouco a pouco voltamos atrás no tempo e morremos sozinhos, como era princípio (…). Sopro do Côncavo é um olhar sobre a criação, sobre a existência que parte deste vazio despido de conforto. Uma busca eterna pela solidão que reflete o ascendente mais nobre que há em nós. Sopro é a coragem para existir e a vontade de exprimir a poesia. Côncavo é o espaço que fica por detrás da origem, é a profundidade e a nova dimensão.
Pedro Lima Soares
Inspirado no conto de Rubem Fonseca, “Henri”, o que aqui temos é uma variação desse mesmo conto.
Paris ocupada (1940) e Henry, o homem que não pode escapar a quem é.
O que nele habita não o deixa fugir, mesmo se há uma psicanalista que pode (ou poderia) servir-lhe de espelho redentor.
Sucede que quem mata e faz desse ofício a meticulosa tarefa de mergulhar dentro de si, não pode encontrar redenção.
É Henry, o florista. Ou de certo modo (ou de modo muito muito certo), somos nós todos: por detrás da aparente fragilidade que temos (as flores são essa fragilidade), vive em nós, neste tempo veloz e de rapina, o monstro que habita Henry.
Esta ópera foge, por isso mesmo, às convenções: é sobre uma figura moderna mas esquecida, o serial killer, o homem-monstro que, na sua ocupação diária, prova que estamos longe da humanidade que foi nossa um dia.
Esta obra nasceu duas vezes e morreu uma. Uma primeira versão foi iniciada no fim de 2016 que chegou aos 6 minutos até ser completamente amarrotada e deitada ao lixo. No início de 2017 comecei a escrever aquela que viria a ser a ‘verdadeira’ Nadir.
Foi esta morte que me impulsionou a escrever a obra da forma que ela existe agora – 6 minutos de música e meses do maior bloqueio criativo. Mote – usar as fraquezas como armas, usar o sofrimento como ferramenta.
“A moeda do tempo
Distraí-me e tu ali já não estavas vendeste ao tempo
a glória do início e na mão recebeste
a moeda fria com que o tempo pagou a tua entrada.”
Gastão Cruz
“A moeda do tempo”, 2006 Por vezes o tempo passa e nós não nos apercebemos, pelo que no fim podemos nem nos aperceber do efeito que teve. É por isso que a “glória” passa pode desaparecer-nos e nem damos pela sua ida.
André Mota
Em Memória | Okiya Flor, livremente inspirada no livro Memórias de uma Gueixa de Arthur Golden, realiza-se uma síntese dramática e poética das memórias de uma rapariga japonesa de olhos claros – a Aprendiza –, que perdeu a família no incêndio da sua aldeia e que, sem que lhe fosse dada escolha, foi admitida numa casa de gueixas (Okiya), pela respetiva proprietária e gerente – a Mãe. Na Okiya, a mais experiente (também a mais rentável) e mais bonita gueixa de todas – a Gueixa – vê a sua posição ameaçada por essa rapariga, que, com os seus tão raros olhos de água, poderá facilmente substituí-la, também na preferência do melhor cliente (e homem mais poderoso da região) – o Senhor -, o que vem a suceder. Porém, enquanto a Gueixa ama um jovem – o Rapaz – que não tem meios para a emancipar, mas com quem se encontra sem permissão, a Aprendiza apaixona-se pelo Senhor, acabando igualmente por ser preterida. Ambas se apercebem, então, da sua condição e, verdadeiramente, do valor da vida e da morte.
Nota de programa |
…contrasta a tua mente…
…contrasta a tua face…
…contrasta o teu sentir…
…contrasta o teu cheiro…
…constata a tua sensação…
…constata a tua reflexão…
…constata o teu paladar…
…constata o teu pensamento…
…contesta a tua garra…
…contesta a tua mágoa…
…contesta o teu olhar…
…contesta o teu tacto…
…convexa a tua alma…
…convexa a tua tormenta…
…convexa o teu amor…
…convexa o teu impulso…
João Llano