Polekki, op. 17
Esta obra é dedicada ao meu amigo e jovem compositor polaco Jakub Montewka.Após uma conversa com este meu compositor amigo sobre a relação entre música e luz / cor, decidi explorar profundamente essa mesma ideia e daí surgiu esta obra. “Lekki” significa luzsuave em polaco e “Po”, é um prefixo que acrescentei, seguido o estilo do grande poeta Bolesław Leśmian, desta forma procurei uma maior proximidade fonética ao vocábulo“polaco”.
Tem uma estrutura simples de ABA. Melodicamente situa-se algures entre Richard Strauss e Béla Bartok, e harmonicamente fui buscar muito de Claude Debussy e Olivier Messiaen.
Embora a ideia de cor esteja mais relacionada à harmonia do que à melodia, na primeira parte, numa região circundante de Lá m a melodia desempenha o papel principal – é a melodia que define a harmonia, e não o contrário.
Na segunda parte, a música ganha mais variedade de texturas, começa em pianíssimona parte mais grave do piano, e vai ganhando intensidade – com um progressivo crescendo, uma aceleração e um aumento no registo – atingindo um clímax.
No início desta segunda parte (que é construída sobre as quatro dominantes de Lámenor) surge um tema simples, inspirado numa canção folclórica de berço transmontana, “Ó ó ó meu menino ó”. Toda a segunda parte vive da variação e do desenvolvimento deste tema.
Na recapitulação, retornamos ao território próximo a Lá menor, mas agora o tema é mais disperso, permanecem algumas das texturas e tensões da parte central, mas no final tudo termina num fulgente Lá Maior, com uma invocação discreta da música do berço no registo mais agudo.
O número de ouro é a base de toda a estrutura, que presta vassalagem a um extremo rigor matemático. Porque razão procurei uma estrutura tão matemática? Porque a luz é por natureza a mais matemática das essências – a luz é perfeitamente numérica, tem sempre a mesma velocidade, a mesma linearidade. Chamamos às proporções em luz de cor, geralmente associamos cor com harmonia – porém as proporções, que existem sem dúvida na harmonia, existem primeiro e permanentemente na estrutura.
A ideia de “lekki” marca também o ambiente da obra, trata-se sempre duma luz suave, duma luz fria, omnipresente na textura e no carácter da obra que é sempre gélido, não se trata por isso duma luz que aquece, não é uma luz mediterrânica.