Ausência: uma reflexão sobre o poema de Sophia de Mello Breyner
Esta peça tem por motivação ser uma reflexão, sobre o poema: Ausência, de Sophia de Mello Breyner Andresen, pretendendo-se recriar o ambiente musical dos sentimentos e das sensações suscitados pela leitura deste texto.
Da leitura do poema ficam bem evidenciados tanto os sentimentos da nostalgia e da angústia, como os da tristeza e do desespero, mas também outros sentimentos antagónicos como são os casos da esperança e da expectativa do regresso da pessoa amada.
Esta peça está composta num esquema tripartido, sem interrupção, correspondendo cada uma das partes a um dos estados de espírito suscitados pela leitura do poema.
A primeira parte da obra, é um andamento moderado, de carácter triste e desesperado, numa alusão aos sentimentos provocados pela ausência e pela noção de vazio.
A segunda parte da peça é um movimento vagaroso, traduzindo o sentimento da nostalgia e da angústia, fruto duma boa memória passada.
A terceira parte é um andamento rápido e brilhante, simbolizando a esperança e a expectativa do regresso do ser ausente.
A primeira parte desta obra, é um andamento moderado, de carácter triste e desesperado, numa alusão aos sentimentos provocados pela ausência e pela noção de vazio. Esta secção inicia-se com apresentação de dois fragmentos motívicos, que estarão presentes ao longo da peça e que caracterizarão todo este movimento: um cluster e um intervalo melódico, sob a forma de triângulo e num âmbito de trítono.
Logo após a apresentação destes dois motivos segue-se uma pequena secção ao estilo de um recitativo, como que interrompendo o início e impedindo que este se desenvolva. É como um momento de introspecção no ambiente que se está a viver.
Já no fim deste andamento aparece um novo motivo melódico/rítmico caracterizado pela simultaneidade nas entradas do ensemble e pelos intervalos constituintes do próprio: dois trítonos separados por um meio tom, intervalos muito presentes ao longo de toda a obra.
A segunda parte da obra é um movimento vagaroso, traduzindo o sentimento da nostalgia e da angústia, fruto duma boa memória passada. Este movimento caracteriza-se por uma longa melodia no trombone, com acompanhamento no piano e nas cordas; aparecendo,
a espaços, pequenas intervenções, com carácter pontilhístico, nos sopros. Este solo de trombone será abruptamente interrompido, dando lugar a uma secção onde o caos é nota dominante. Aqui a textura é estratificada e é composta por cinco linhas melódicas. Findo este momento musical, o caos termina numa pequena secção de ligação para o movimento seguinte, muito calma e onde o violino I está em destaque com um pequeno fragmento melódico que é um desenvolvimento do motivo melódico/rítmico do primeiro movimento.
A terceira parte é um andamento rápido e brilhante, simbolizando a esperança e a espectativa do regresso, e é caracterizado por um longo ostinato no piano. Em termos formais pode dizer-se que esta terceira parte é um conjunto de vários momentos. Aqui, exceptuando a introdução atribuída ao xilofone, com acompanhamento nos outros instrumentos, todo o movimento é composto por material já anteriormente apresentado. A única diferença é a forma como esse material está agora apresentado e desenvolvido.