A escrita desta obra deu-se no âmbito do meu mestrado em composição cujo objeto de estudo é a relação da pintura com a composição musical. Neste sentido, a escrita desta obra iniciou-se pelo estímulo visual de uma pintura de Wassily Kandinsky e da reflexão sobre o livro de Rudolf Arnheim: O Poder do Centro.
Os fatores determinantes na escolha da pintura foram a sua beleza e o facto de conter figuras geométricas bastante precisas – círculos, triângulos, linhas retas, entre outros – que parecem ter sido feitos com régua. O cuidado de escolher formas geométricas precisas, deve-se à definição dos seus contornos, possibilitando uma maior clareza dos gestos melódicos e harmónicos.
Arnheim, no Poder do Centro, aborda uma das grandes questões, com que muitos se confrontam: “Quais os fatores determinantes nas Artes Visuais?”, partindo de uma análise do “poder do centro”.
A meu ver, Arheim consegue apresentar com clareza a sua visão da existência de dois sistemas visuais: o “cêntrico”, definido nas palavras do autor por “atitude autocêntrica que caracteriza a perspetiva e a motivação humanas no princípio e que permanece”, e o excêntrico como “qualquer ação do centro primário dirigida para uma ou diversas metas exteriores, ou objetivos”; ambos derivam da forma como é percecionado o mundo e estão presentes na arquitetura, na pintura e na escultura, ao longo da historia. Este livro centra-se nas questões relacionadas com a análise da forma, sendo que os princípios de análise enunciados, podem ser igualmente usados na composição das cores ou dos movimentos.
Um Ressoar Cêntrico Dourado, foi então concebida partindo da análise da pintura de Kandinsky, tendo sido selecionados alguns centros para mim mais impressivos, dos quais, por processos de interpretação pessoal, resultaram “motivos”; para cada um deles, a escrita composicional desenvolveu-se como se de secções diferentes se tratasse. Desta forma, cada momento musical representa o instante em que pousamos o nosso olhar sobre determinado centro dessa pintura. Observamo-lo por algum tempo e assim sucessivamente passamos a um ponto seguinte e depois a um outro. No final há um vislumbre da obra pictórica no seu todo ficando assim a ecoar na nossa memória.
Solange Azevedo
17 de Setembro de 2018
Solange Azevedo
Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo
Solange Azevedo é uma compositora e artista plástica portuguesa. Iniciou a sua Licenciatura em Música: Composição no ano de 2014 e o seu Mestrado em Composição em 2017 ambos na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo; onde trabalhou com Carlos Azevedo, Filipe Vieira, Dimitrios Andrikopoulos e Eugénio Amorim. O seu mestrado é focado nas relações da composição musical com a pintura. Em 2018, foi uma dos dez selecionados para a Academia de Composição - Philippe Manoury, tendo tido aulas com o próprio e com Luca Francesconi; aí viu a sua obra para sexteto vocal, Traum, ser estreada pelos Neue Vocalsolisten Stuttgart no Festival Musica, em Estrasburgo. Em 2017, a sua primeira obra para orquestra Ilustração, foi estreada pela Orquestra Sinfónica da ESMAE, sob direção de Javier Viceiro. Entre os seus trabalhos contam-se obras a solo, para música de câmara, ensemble, orquestra e electrónica. Tem interesse em performance e improvisação, tendo pertencido a alguns grupos que tiveram apresentações em bienais artísticas portuguesas - Biennial of Contemporary Arts e Bienal de Cerveira. Em 2014 terminou o curso secundário de piano.