• Título da obra: O Jardim
  • Partitura: O Jardim
  • Compositor(a): Tiago Cabrita
  • Ano de Composição: 2010
  • Instituição/Pólo: Escola Superior de Música de Lisboa
  • Categoria: Ópera/Teatro Musical
  • Instrumentação detalhada: Sop,Bar/1.1(ca).1(bcl).1(cfg)/1.1.1.0/3perc/0/1.1.1.1.1
  • Duração Total: 30'00"
  • Duração: 30+ min
  • Intérprete(s): Joana Alves - soprano Francisco Henriques - barítono ClusterLab - dir. Carlos Marecos

Inspirado no conto de Rubem Fonseca, “Henri”, o que aqui temos é uma variação desse mesmo conto.
Paris ocupada (1940) e Henry, o homem que não pode escapar a quem é.
O que nele habita não o deixa fugir, mesmo se há uma psicanalista que pode (ou poderia) servir-lhe de espelho redentor.
Sucede que quem mata e faz desse ofício a meticulosa tarefa de mergulhar dentro de si, não pode encontrar redenção.
É Henry, o florista. Ou de certo modo (ou de modo muito muito certo), somos nós todos: por detrás da aparente fragilidade que temos (as flores são essa fragilidade), vive em nós, neste tempo veloz e de rapina, o monstro que habita Henry.
Esta ópera foge, por isso mesmo, às convenções: é sobre uma figura moderna mas esquecida, o serial killer, o homem-monstro que, na sua ocupação diária, prova que estamos longe da humanidade que foi nossa um dia.

 

Breve Reflexão sobre “O Jardim”

1ª Parte – Descrição e Reflexão sobre a montagem da Ópera

O presente texto tem como objetivo a reflexão sobre o processo de montagem e produção da Ópera “O Jardim”, estreada em novembro de 2017 no Auditório Vianna da Mota na Escola Superior de Lisboa (ESML), assim como referir de que modo é que as interações entre os diversos intérpretes e intervenientes contribuíram para o resultado final da estreia.

A composição da Ópera “O Jardim” data de 2010 período coincidente com a conclusão da minha Licenciatura em Composição na Escola Superior de Música sob orientação do Prof. Carlos Marecos.
Nos primeiros meses de 2017 a Ópera foi selecionada para integrar o Projeto de Produção de Ópera num Contexto Criativo Contemporâneo da Escola Superior de Música de Lisboa com o apoio do Instituto Politécnico de Lisboa que financiou a criação dos figurinos. Por já existir da minha parte um conhecimento prévio tanto do trabalho artístico como da pessoa a escolha acabou por recair na estilista Ana Duarte (estilista da marca Duarte).
A primeira fase da produção da Ópera decorreu entre Abril e Maio de 2017 e culminou com a estreia da segunda cena da Ópera na Semana da Composição da ESML e teve como objetivo primeiro a criação de um período de experimentação e reflexão prática sobre o libreto/ação, a própria estrutura do texto, e ainda uma primeira abordagem ao texto musical, aos problemas e desafios colocados ao intérpretes e algum trabalho de revisão não só da partitura ao nível da escrita para voz como orquestração.
Esta fase foi, a meu ver, muito importante porque permitiu de uma forma imediata “vislumbrar” o resultado musical final da segunda cena e ainda ter um produto artístico concreto sobre o qual foi possível debater, mais tarde, a conceção das personagens de uma forma mais detalhada sob diversos aspetos: a caracterização psicológica das personagens, um possível cenário (ou envolvente cénica), aspetos relacionados com os figurinos – materiais, corte, conceito.

A segunda fase da produção da Ópera decorreu entre os meses de setembro e novembro de 2017.
O trabalho de revisão da partitura que a segunda cena exigiu em abril foi retomado para as duas cenas restantes no meses que antecederam a estreia da Ópera completa (em novembro). Mais uma vez, as alterações feitas em relação à versão de 2010 estiveram relacionadas com aspetos de orquestração ou pequenos pormenores relacionados com a voz dos intérpretes no sentido de procurar maior conforto para os mesmos. De referir que o barítono Francisco Henriques tomou o lugar do barítono Tiago Amado Gomes que tinha estado envolvido na primeira fase do projeto. Houve também algumas alterações no ensemble instrumental em relação à constituição do ensemble em maio.
No que diz respeito ao trabalho de encenação houve desde cedo uma grande convergência no que diz respeito à visão do que seria uma possível leitura do libreto e à sua transposição para o palco. Esta leitura inicial foi discutida entre mim e a encenadora Sílvia Mateus que depois a desenvolveu tendo em conta também a criação do espaço cénico/cenário.
É também bastante importante salientar que houve uma troca de opiniões e informações bastante regular entre mim e o Prof. Carlos Marecos (que dirigiu o Ensemble instrumental) o que permitiu um trabalho musical bastante pormenorizado com o Ensemble o que, obviamente, se tornou uma mais valia para o resultado final.

 

2ª Parte Breve apontamento sobre “O Jardim”

Este texto tem como objetivo refletir sobre a composição da Ópera “O Jardim” assim como a reposição da mesma no Palácio Nacional da Ajuda em fevereiro de 2018 no contexto do Projeto de Criação, Circulação, Registo áudio e Edição de Partituras de Música Portuguesa Contemporânea numa perspectiva reflexiva.

O libreto da Ópera “O Jardim”, escrito por António Carlos Cortez, parte do conto de Rubem Fonseca ”Henri” do livro de contos “Os Prisioneiros” de 1963 e conta a história de um florista serial killer que seduz mulheres para depois as assassinar de um modo bastante particular. As personagens que estão previstas são Henry (a personagem principal), Madame e a Doutora (a psicóloga de Henry, que pode ou não estar em palco e que para estas récitas se optou por ter presente em palco).

Do ponto de vista da estrutura macroformal, a peça divide-se em quatro cenas precedidas de um prelúdio para viola solo que tem função de abertura e intercaladas (nomeadamente entre a primeira e segunda cenas) por um breve interlúdio instrumental. No que diz respeito à ação é possível dizer que a primeira metade da ópera se centra na apresentação da personagem e, em seguida, na sugestão do homicídio de Madame enquanto a segunda metade está mais ligada ao universo psicológico e interior de Henry. Esta divisão tem um reflexo ao nível da orquestração: na primeira metade da ópera é mais luminosa e densa na primeira metade da ópera enquanto na segunda cena se torna mais neutra (terceira cena) e mais escura (quarta cena).

 

 

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Tiago Cabrita

Escola Superior de Música de Lisboa

Tiago Cabrita licenciou-se em Composição na Escola Superior de Música de Lisboa onde foi orientado por João Madureira, Luís Tinoco e Carlos Marecos e em 2013 concluiu o Mestrado em Música (Composição) com orientação de António Pinho Vargas e Carlos Marecos com a Tese “Ressonância(s): Processos de Escrita Musical”. Frequentou masterclasses de Composição com Emmanuel Nunes, Marc-André Dalbavie, Peter Hamel e Ertugrul Sevsay. Ganhou o 1º Prémio no Concurso Internacional de Jovens Compositores da Cidade de Portimão na categoria de “Grupo Misto”, com a obra “Quasi una Maré”. Participou no 8º Workshop para Jovens Compositores da Orquestra Gulbenkian com a peça “Retorno”, dirigida pela Maestrina Joana Carneiro, e no Festival Música Viva, da MisoMusic Portugal, com a peça “Sopro da Alma” para Flauta, na sua versão com Eletrónica em Tempo Real e contou com a Encomenda da peça “Anticlockwise” para Violino Solo pelo Prémio Jovens Músicos/RTP-Antena 2. Em 2012 estreia a Ópera curta “A Vida Inteira”, com libreto de António Carlos Cortez, a partir de um poema de Ruy Belo, que foi dirigida por João Paulo Santos e encenada por Luis Miguel Cintra, no Teatro Nacional de S.Carlos. A sua peça “Do Outro Lado do Espelho” (2013) foi estreada em Friburg, Suiça pelo Duo Pianissimo. Estreou em 2014, “Uma vez que já tudo se perdeu” para Coro e Orquestra de Cordas (poema de Ruy Belo), peça interpretada pela Sinfonietta de Lisboa e dirigida por Vasco Pearce de Avezedo. Em 2015 estreia no Festival Ao Largo a Ópera “O Deus do Vulcão” com libreto de António Pacheco (segundo uma história de F. Barata), primeira Ópera a fundir o Gamelão de Java com música ocidental. A estreia contou com elementos da Orquestra Sinfónica Portuguesa, o Coro do Teatro Nacional de S. Carlos, o Yogistragong (grupo de Gamelão) e a direção de Osvaldo Ferreira. Em 2016 o Virtuoso Soloists of New York estreia “Love’s Voice” sobre haikus de Richard Zimler e em 2017 estreará a Ópera “O Jardim” (2010) numa produção apoiada pelo IPL – Instituto Politécnico de Lisboa. A sua obra “Intimidade” para Saxofone e Piano foi gravada pelo Ai Duo no seu primeiro registo “On the Way…”. Leciona no Colégio Moderno desde 2007 e na Escola de Música do Colégio Moderno desde a sua fundação, em 2012.