• Título da obra: Tir’d with all these, for restful death I cry
  • Partitura: Tir'd with all these, for restful death I cry
  • Compositor(a): Pedro Latas
  • Ano de Composição: 2018
  • Instituição/Pólo: Escola Superior de Música de Lisboa
  • Categoria: Pequeno ensemble (2-6 exec.)
  • Instrumentação detalhada: Flauta, Clarinete, Piano, Violino, Violoncelo e Electrónica.
  • Duração Total: 4'27"
  • Duração: - 5 min
  • Intérprete(s): ClusterLab - dir. Carlos Marecos

“(…) Tired with all these, from these would I be gone,

Save that, to die, I leave my love alone.”

(William Shakespeare, Soneto 66)

A propósito de Tir'd with all these, for restful death I cry"

 Tir’d with all these, for restful death i cry, para Flauta, Clarinete em Sib, Piano, Violino, Violoncelo e electrónica foi escrita após um período de grande, e não intencional, pausa na criação musical.

Tir’d with all these começou a ser idealizado como uma peça somente acusmática mas mais tarde evoluiu para algo que se pode descrever como “música concreta instrumental” (pensamento de escrita semelhante ao do compositor alemão Helmut Lachenmann). A função do ensemble é, quase
apenas, acentuar os gestos ouvidos na electrónica, enriquecendo-os timbricamente. Apenas na secção central é que os instrumentos ganham alguma independência, tendo por base o material espectral de determinados objectos sonoros constituintes da electrónica.

Esta peça é essencialmente o resultado de uma revolta contra um bloqueio artístico.
Passados 3 meses sem escrever uma única nota resolvi começar uma simples montagem electrónica para tentar desencadear alguma criação musical. Pensei que tendo nas minhas mãos as
possibilidades quase infindáveis do mundo electrónico poderia desbloquear o meu processo criativo, dado que as restrições eram quase nulas e o mundo sonoro que podia utilizar era (e é) extremamente expansivo. Assim, partindo duma simples montagem, desenvolveu-se um discurso musical mais complexo e achei necessária a adição de instrumentos, não só para “colorir” os sons electrónicos mas também para explorar modelos de união entre o universo electrónico e o universo instrumental (uma área de estudo que tem vindo a tornar-se um dos focos principais da minha criação artística). Uma das principais novidades (quase uma epifania!) trazidas para a minha escrita com esta peça foi ainda o gesto musical como elemento que está em primeiro plano. Sendo uma das causas do bloqueio a minha obsessão pela criação de sistemas altamente fechados em si próprios para a definição de alturas e durações (uma herança “indesejada” do meu ensino focado na música pré-planeada como sendo “o caminho certo” para a escrita de uma peça, dita, de “boa qualidade”) resolvi pôr em destaque o gesto, com um certo tipo de contorno, timbre e sem nunca definir alturas ou durações precisas, como material musical. De facto, ao libertar-me dos pesos da ultraracionalização consegui, na minha óptica, evoluir como compositor através da criação de algo que não é somente uma realização de um esquema pré-concebido.

A referência ao Soneto 66 de William Shakespeare deve-se a facto do sujeito poético estar revoltado com o mundo em seu redor, enunciando as várias injustiças e angustias que o afectam.
Apesar do soneto ter um carácter geral de desanimo e melancolia, face ao mundo e à vida do sujeito poético, os últimos 2 versos demonstram uma vontade de, apesar de todas as adversidades, lutar por aquilo que nos traz felicidade: no caso do sujeito poético a sua felicidade tem origem no amor que sente por, deduzo eu, uma mulher, enquanto que no meu caso pessoal é o amor que tenho pela criação musical. Revi-me nas ideias do sujeito poético dado que, na altura da escrita da peça, estava angustiado com a minha incapacidade de criar música devido ao cansaço extremo que adveio de múltiplos projectos paralelos que requeriam a minha atenção. Não obstante, e olhando para trás, consigo perceber que todo o cansaço valeu a pena pela felicidade e prazer que obtive com o meu crescimento como músico que, de outra maneira (e apesar de ter sido doloroso), não teria acontecido.

 

Pedro Latas

 

 

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Pedro Latas

Escola Superior de Música de Lisboa

Nasceu a 19 de Agosto de 1998 em Évora. O seu contacto com a música começou na catequese onde aprendeu os básicos de teoria musical para poder acompanhar as missas tocando órgão. Em 2008 ingressa no Conservatório Regional de Évora - Eborae Musica, na classe de Guitarra Clássica, onde estudou com José Farinha. Após completar o 6º grau de instrumento muda para Composição (nível do Ensino Secundário), estudando com João Francisco Nascimento, até acabar o 8º grau, em 2016. Nesse mesmo ano faz provas na Escola Superior de Música de Lisboa e ingressa no curso de Composição. Na ESML estuda composição com João Madureira (1º ano) e Carlos Caires (2º e 3º anos), tendo aulas ainda com Sérgio Azevedo, Carlos Marecos, Roberto Pérez e José Luís Ferreira. Com as aulas de Informática Musical começa a desenvolver uma paixão pela música electroacústica, tornando-se este campo um foco importantíssimo da sua criação artística. Ao longo da sua vida académica contacta ainda com compositores de renome nacional e internacional, entre eles Åke Parmerud, Alla Zagaykevich, Jaime Reis, Panayotis Kokoras, Hans Tutschku e Yannis Kyriakides, em variados contextos. Para além da composição, Pedro também se dedica à performance de música coral, pertencendo ao Coro de Câmara da ESML, dirigido por Paulo Lourenço, e Nova Era Vocal Ensemble, dirigido por João Barros. Pertenceu ainda ao Coro Ricercare, dirigido por Pedro Teixeira.