Esta peça é inspirada em quatro terras do interior de Portugal: – Paul, na Beira-Baixa; Reguengos de Monsaraz, no Alentejo; Miranda do Douro e Paradela, em Trás-os-Montes. No interior de uma linguagem que não é tonal, modal, nem atonal; algumas melodias oriundas dessas terras habitam esta peça, por vezes de forma submersa, empoeirada, distorcida, desgastada pelos elementos, outras vezes de forma filtrada mais límpida e pura.
Carlos Marecos
As ‘Terras por detrás dos montes’ é uma obra para piano escrita por Carlos Marecos em 2011. Dividida em quatro andamentos, estes foram inspirados por quatro terras do interior de Portugal: Paul, Reguengos, Miranda do Douro e Paradela. A obra explora várias técnicas diferentes o que a torna exigente começando com um primeiro andamento (Paul) todo ele composto por acordes (cachos) que nos transporta de imediato para um ambiente de incerteza e mistério. Depois do 1° andamento se dissipar, entra vigorosa a nota que dá início ao 2°número (Reguengos). São sequências de notas ornamentadas com um acorde da mão esquerda sustentado com o pedal de sostenuto resultanto por isso num edifício sonoro bastante interessante e cheio de várias cores.
Com cordas abafadas e um carácter quase interrogativo este andamento termina sendo brutalmente interrompido pelo início da 3a parte da peça (Miranda). Altamente provocatório e impetuoso, este andamento leva-nos pela evolução da tensão de um tema (maragato) até terminar num retumbante final deixando espaço para uma ou outra pergunta.
O último andamento (Paradela) começa com um glissando sobre as cordas. Depois de uma breve introdução segue-se um diálogo entro o piano e as cordas deste em pizzicato. A tensão desenrola-se ao longo do andamento, aparecendo pelo meio como que ruínas de outros números. De certa forma consoladora, mas ao mesmo tempo incerta, a obra desvanece no silêncio.
José Pedro Ribeiro
Carlos Marecos
Escola Superior de Música de Lisboa
Professor Coordenador
Nasceu em Lisboa em 1963. Licenciou-se em Composição na Escola Superior de Música de Lisboa, onde estudou, entre outros, com Eurico Carrapatoso, António Pinho Vargas e Christopher Bochmann. Frequentou seminários dirigidos por Emmanuel Nunes, Gilbert Amy e Louis Andriessen, entre outros. Doutorado em Música pela Universidade de Aveiro, onde apresentou a tese "Interacção entre estruturas intervalares e estruturas espectrais, na música instrumental/vocal", sob a orientação de João Pedro Oliveira e Christopher Bochmann, como bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia. Prémio Lopes Graça de Composição de 1999 com a obra "Canções Populares Portuguesas" para soprano e piano e pelo segundo ano consecutivo ganhou o mesmo prémio na edição de 2000 com a obra "5 miniaturas para violoncelo solo". É director musical do "Ensemble Portátil" com os quais tem desenvolvido um trabalho na área da música contemporânea e na harmonização de música tradicional portuguesa. Tem recebido encomendas de diversas entidades como a Culturgest, o Serviço Acarte da Fundação Calouste Gulbenkian, a Expo 98 de Lisboa, OrquestrUtópica, Festival Internacional de Música do Estoril, Cistermúsica - Festival de Música de Alcobaça, entre outras. Tem colaborado com o teatro e a dança contemporânea, com os encenadores João Brites, Raul Atalaia, Luís Miguel Cintra e Paulo Lages e as coreógrafas Madalena Victorino e Vera Mantero. Desde 2002 Marecos tem desenvolvido um trabalho regular com peças encenadas com uma equipa de artistas como a soprano Margarida Marecos, o actor e encenador Paulo Lages, o actor Guilherme Filipe, o cenógrafo Acácio de Carvalho e a figurinista Manuela Bronze. Fora de Portugal a sua música tem sido apresentada em Espanha, França, Inglaterra, Itália, Dinamarca, Colômbia e EUA. Lecciona actualmente na Escola Superior de Música de Lisboa e no Conservatório de Música D. Dinis em Odivelas.