Prana (sopro de vida) é, segundo as antigas escrituras da filosofia hindu, a energia vital universal que premeia o cosmos, absorvida pelos seres vivos através do ar que respiram. Acredita-se que utilizando vários gestos respiratórios, afim de exercitar e controlar a respiração, é possível controlar a fluidez da energia vital atingido determinados estados de espírito. Traduzir este arquétipo para um discurso musical foi umas das principais energias impulsionadoras para criação destas peça. A sua estrutura foi definida através de diferentes gestos esboçados com intuito de imitar um exercício respiratório, que se configura através de uma espécie de tensão (inspiração), distensão (expiração). Ao contorno (gesto global) que daí resulta e que se repete é aplicado um processo de variação, baseado na conjugação de elementos constantes com elementos variáveis. Este processo pode ser observado a uma micro escala ( dentro de uma secção) bem como a uma macro-escala (entre diferentes secções).
A propósito de Prana
Texto Reflexivo
Prana é uma palavra sânscrita cuja tradução é “ar da vida” ou “força da vida”. Na China é conhecido como “cchi”, no Japão como “ki”, na Polinésia como “mana”. Está presente em todo o universo, tanto no macrocosmo (espaço) como no microcosmo (corpos de seres vivos). Seu fluxo adequado em nossos corpos reflecte-se numa mente e corpo equilibrado e saudável. Este equilíbrio é adquirido através de uma exercício respiratório, que está intrinsecamente conectado com contracção e dilação.
Neste pequeno texto introdutório são referidas algumas palavras-chave, tais como macrocosmo versus microcosmo; contracção versus dilatação, respiração, ar, força. Este são os elementos que estão subjacentes ao pensamento que deu origem a esta obra. Poderíamos então afirmar que a respiração está associada a estados de espíritos, assim como o reverso. O paradoxo aqui estabelecido é de suma importância, pois revela no seu íntimo a força geradora desta peça musical. Pensar em elementos que influenciam outros elementos que por sua vez estão a influenciar os elementos pelos quais foram influenciados. Poderíamos afirmar que este paradoxo está presente em qualquer acto de composição musical, e que embora existe um determinada percentagem de controlo sobre os acontecimentos, talvez esse controle seja apenas ilusório. Assim sendo nesta peça, decidi libertar-me desse controlo omnipresente e registar ideias no impulso do momento e assim criar uma amálgama de ideias sobre as quais mais tarde iria trabalhar e executar a função que a mim me foi consignada, compor.
Ingenuamente eu pensava que estava a incumbir numa pleno acto de libertação quase anárquica, quando me deparei que o facto de que todas as ideias estavam conectadas. Fragmentos pulverizados aqui e ali, numa organização que aparentemente parecia ao acaso. A pergunta que se levante é: Somos nós agentes controladores do nosso ser ou somos controlados por algo que existe em nós construído por nós mesmo. Será Ego será que algum dia conseguiremos libertar desse Ego.
João Ceitil
João Ceitil
Escola Superior de Música de Lisboa
João Ceitil nasceu em Vila Franca de Xira em 1984. Frequentou o curso de Composição na Escola Superior de Música de Lisboa, tendo iniciado os seus estudos musicais em 1994 no Instituto Gregoriano de Lisboa onde frequentou o curso geral de piano até ao 4º grau de formação. Os estudos musicais foram posteriormente interrompidos e em 2002 ingressou no Curso de Pintura da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, na qual concluiu a Licenciatura. Ainda assim a paixão pela música esteve sempre presente numa participação activa de cariz autodidacta que mais tarde, em 2011, veio dar origem à candidatura ao curso de composição da Escola Superior de Música de Lisboa. Nesta mesma instituição prosseguiu os seus estudos, tendo como professores Luís Tínoco, Carlos Marecos e Carlos Caires na disciplina de composição. Em 2012 foi convidado a participar no Workshop de composição para repertório de Voz com orquestra, sob a orientação do compositor Marc-André Dalbavie, no âmbito do protocolo criado entre Escola Superior de Música de Lisboa e Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa. Em 2013 foi vencedor do Prémio de Composição SPA-Antena2 integrado no concurso Prémio Jovens Músicos. Em 2014 foi aceite como participante activo no Masterclass de Composição integrado no “Internacional Bartók Seminar and Festival, sob a orientação Peter Eotvos, no qual compôs uma peça intitulada “ChacoN” que recebeu em 2015 uma recomendação na categoria geral da Tribuna Internacional de Compositores - “ 2015 International Rostrum of Composer”. Em 2017 ingressou no mestrado de Musica/Composição na Royal Conservatory the Hague terminando com distinção em 2019. Recentemente está a desenvolver um projeto que envolve composição assistida através de programação direccionada para algoritmos vários e “deep learning”.