• Título da obra: Nothingness as an emergence
  • Partitura: Nothingness as an emergence
  • Compositor(a): João Carlos Pinto
  • Ano de Composição: 2018
  • Instituição/Pólo: Escola Superior de Música de Lisboa
  • Categoria: Obras a solo (excluindo teclado)
  • Instrumentação detalhada: Violoncelo preparado e Electrónica
  • Duração Total: 8'00"
  • Duração: 5 -10 min
  • Intérprete(s): Beatriz Picas Magalhães - violoncelo João Carlos Pinto - electrónica

O Universo não foi criado.

‘Nada’, por definição, não existe.

Sendo que ‘nada’ não pode existir o que resta é a existência.

A existência é infinita. Não tem início. Não tem fim. E, assim sendo, não tem criador.

No entanto, existe uma origem do universo, uma vez que este universo não é existência.

É, meramente, uma infinita pequena parte da existência.

Este universo é um evento espontâneo e inevitável dentro da eternidade da existência.

Todo e cada evento pode, quer e já aconteceu… incluindo este universo.

 

A denominada ‘vida’ é uma consequência inevitável das propriedades físicas deste universo.

Isto posto, o universo não tem significado. O próprio ato de existir não tem significado.

Contudo, a ‘vida’ tem significado.

O significado vive na mente.

O ser humano conjura significado mas opera sob a falsa crença de que significado é um plano místico.

O significado não se procura, porque o significado não se encontra.

O significado é a criação da existência do significado.

 

 A propósito de "Nothingness as an emergence" 

Esta obra nasce, essencialmente, de uma conceptualização do que é o ‘nada-absoluto’. O próprio título da peça induz que este ‘nada’ é ‘emergente’ (entenda-se por ‘emergente’ uma condição de uma entidade que tem determinadas propriedades no seu todo, devido à interação das suas partes que não têm intrinsecamente essas, ditas, propriedades). Este pensamento despoleta 3 outros conceitos que se irão mostrar como pilares no pensamento da obra – criação, existência e significado.
Todas estas ideias materializam-se de inúmeras formas ao longo da obra. O seu impacto mais notório encontra-se na forma/estrutura da peça. Esta estrutura, na sua base, é extremamente elementar possuindo 3 momentos que apelidei de “Nascimento”, “Desenvolvimento” e “Morte” e, ao todo, existem 4 grandes secções, sendo que tanto o “Nascimento” como a “Morte” apenas têm uma secção associada (secção A e D, respectivamente). No entanto, no “Desenvolvimento” comprime-se as outras restantes secções – B e C. Estas secções são as únicas que se poderá encontrar o performer em palco e/ou a tocar o seu instrumento e é em C que acontece o clímax, coincidindo com a secção dourada. Esta secção [C] ainda se desdobra em 2 outros pequenos momentos, sendo estas divisões feitas, também, com base na secção dourada.
O “Desenvolvimento” desenrola-se de maneira bastante tradicional consistindo, basicamente, num enorme crescendo (de dinâmica, iteração, agressividade, atividade, etc.). Aqui tenta-se inserir o ‘tudo-absoluto’ como contraste quase perverso do ‘nada’. Foram usadas inúmeras citações musicais desde música coral a orquestral, desde erudito a jazz, metal e, até mesmo, uma série de animação do youtube. A eletrónica ainda faz recurso de uma base de dados online que afirma ter “todos os samples do mundo” – manipulando-os com técnicas de swipe, granulação, slice, micromontagem, etc.
O “Nascimento” e a “Morte”, contudo, regem-se por parâmetros mais curiosos. A obra ‘nasce’ sem ninguém em palco… e ‘morre’ de igual modo. A “Morte” (fim da peça) caracteriza-se por ter apenas duas frequências fixas na eletrónica – uma extremamente aguda e outra extremamente grave – um culminar num quase estado de Death Heat (teoria que prevê uma condição final do universo – depois da última estrela morrer, depois do último buraco negro implodir, o universo irá entrar numa total escuridão… um nada eterno…). Este final é longo, curto, até mesmo infinito podendo durar para sempre, nunca ter fim (?) – sem nunca ter um verdadeiro começo.
O “Nascimento” foi a última parte da obra a ser escrita por questões práticas pois, neste momento, toda a peça acontece ao mesmo tempo (excepcionando um pequeno momento inicial que funciona como introdução ou ‘prelúdio’). Aqui, todos os gestos, que irão acontecer no violoncelo, e todos os cues, que irão ser posteriormente ouvidos e manipulados na eletrónica, são comprimidos (durando cerca de 1 minuto e meio), sobrepostos e em reverse, fazendo com que o final deste momento condiga com o início do próximo.
Pode-se olhar para a estrutura desta obra como uma representação musical logarítmica da existência da Existência, tendo como ponto de partida a nossa própria.

 

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João Carlos Pinto

Escola Superior de Música de Lisboa

JOÃO CARLOS PINTO (*1998) nasceu em Braga, Portugal. Estudou Piano e Composição no Conservatório Gulbenkian de Braga. Participou em masterclasses e workshops com: Ensemble Recherche, Tristan Murail, Alexander Schubert, John Chowning, Rebecca Saunders, João Pedro Oliveira, Panayiotis Kokoras, Carola Bauckholt. A sua música tem sido tocada em locais como: Gaudeamus Muziekweek, Casa da Música, Festival DME, Festival Mixtur, Musica Viva Festival, Teatro S. Luiz.Tem recebido encomendas de entidades como: Gaudeamus Muziekweek, Prémio Jovens Músicos e Arte no Tempo. Nomeado Jovem Compositor Associado ao Teatro Nacional S. Carlos em 2019 e é diretor artístico do projeto internacional multidisciplinar “La Esfera : Colectivo”.Atualmente, encontra-se a terminar a Licenciatura na Escola Superior de Música de Lisboa orientado por Luís Tinoco e Carlos Caires. Prémios | Honras: - Obra editada pela Ablaze Records - “Electronics Masters Vol. 7”; - 2º prémio - VI Concurso de Composição - Banda Sinfónica Portuguesa; - Melhor obra no género - War movie - Film Music Competition 2016, Associazione Ravel; - 1º prémio - Nanomúsicos Eletroacústicos 2016 - Festival DME.