Esta obra nasceu duas vezes e morreu uma. Uma primeira versão foi iniciada no fim de 2016 que chegou aos 6 minutos até ser completamente amarrotada e deitada ao lixo. No início de 2017 comecei a escrever aquela que viria a ser a ‘verdadeira’ Nadir.
Foi esta morte que me impulsionou a escrever a obra da forma que ela existe agora – 6 minutos de música e meses do maior bloqueio criativo. Mote – usar as fraquezas como armas, usar o sofrimento como ferramenta.
Assim, Nadir viveu de, essencialmente, dois mecanismos: composição por gestos e momentos, ou seja, secções eram compostas independentes umas das outras e depois interligadas e, estas secções, eram compostas tendo como base “gestos” – para alcançar tal usei símbolos como setas, linhas (tracejadas, contínuas, etc.), blocos negros, etc. – compus contornos, caráter e intenção primeiro e, depois, veio a notação; o segundo elemento importante, pelo menos para mim no papel de criador desta peça, foi algo que chamei de Baralho do Caos – baseado no Oblique Strategies de Brian Eno e Peter Schmidt, este é um baralho de cartas com mensagens escritas, que foi criado com a intenção de promover a criatividade e soltar os artistas de eventuais bloqueios criativos/ crises existenciais. O meu “Baralho do Caos” tem contudo uma pequena diferença, invés de ser eu a criar as soluções/ mensagens do baralho, fui recolhendo testemunhos de outros artistas/ criadores. Cada um adicionou uma mensagem que considerou “caótica” e/ou algo que ele(a) nunca faria. Dito isto, sempre que no processo da escrita de Nadir me encontrei contra uma parede, efetuava uma espécie de “ritual”, baralhava e tirava uma carta. Acontecesse o que fosse, eu teria de fazer o que dizia a carta. Assim foi.
O Baralho do Caos foi usado em Nadir cerca de 2 vezes apenas. Esta foi a primeira obra que usei este método. Nunca mais, desde então, o voltei a aplicar.
João Carlos Pinto
Escola Superior de Música de Lisboa
JOÃO CARLOS PINTO (*1998) nasceu em Braga, Portugal. Estudou Piano e Composição no Conservatório Gulbenkian de Braga. Participou em masterclasses e workshops com: Ensemble Recherche, Tristan Murail, Alexander Schubert, John Chowning, Rebecca Saunders, João Pedro Oliveira, Panayiotis Kokoras, Carola Bauckholt. A sua música tem sido tocada em locais como: Gaudeamus Muziekweek, Casa da Música, Festival DME, Festival Mixtur, Musica Viva Festival, Teatro S. Luiz.Tem recebido encomendas de entidades como: Gaudeamus Muziekweek, Prémio Jovens Músicos e Arte no Tempo. Nomeado Jovem Compositor Associado ao Teatro Nacional S. Carlos em 2019 e é diretor artístico do projeto internacional multidisciplinar “La Esfera : Colectivo”.Atualmente, encontra-se a terminar a Licenciatura na Escola Superior de Música de Lisboa orientado por Luís Tinoco e Carlos Caires. Prémios | Honras: - Obra editada pela Ablaze Records - “Electronics Masters Vol. 7”; - 2º prémio - VI Concurso de Composição - Banda Sinfónica Portuguesa; - Melhor obra no género - War movie - Film Music Competition 2016, Associazione Ravel; - 1º prémio - Nanomúsicos Eletroacústicos 2016 - Festival DME.