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2018

Tertúlia

Tertúlia (2018) é uma obra composta para o Grupo de Música Contemporânea da Universidade de Évora; é uma de dez peças escritas para a respectiva formação anual deste grupo.
A peça é uma sequência de várias secções de características diferentes. A duração variável de cada uma destas secções define certos pesos diferentes e constantemente flutuantes, alterando assim a perspectiva com que se aprecia cada tipo de música.
Em termos objetivos, a forma é: ABACBADBCABDCDE. Cada uma das secções A, Be Cé de tamanho diferente; apenas a secção De sempre do mesmo tamanho. A secção E(a última) é a maior de todas.
A pluralidade de tipos diferentes de música e as intervenções alternadas de todos os instrumentos cria uma verdadeira mesa redonda em que todos têm a oportunidade de contribuir à conversa musical coletiva.

“Prelúdio para uma noite em mar alto” é uma peça composta para o festival Peças Frescas Açores 2016. A mesma partiu duma reflexão do compositor sobre um dos ofícios mais complicados de todos: o da pesca. A música pretende enunciar a inquietação e o nervosismo dum pescador no momento antes de embarcar. No entanto há coisas que, por mais que imaginemos, nunca conseguiremos saber como são na realidade. Como será estar sozinho? Quão difícil será regressar? Vai-se regressar sequer? E se não se regressar? O que se deixa para trás? Quantos vão chorar? Só quem poderá responder a estas e outras perguntas são as pessoas que a peça tenta representar. Muitos de nós nunca poderão respondê-las, pois (graças a sacríficio dos primeiros) nós nunca saberemos o que é passar uma noite em mar alto.

Pedro Moreno-Beirão

Evento/Concerto/Projecto Semana da Composição 2017
Instrumento(s)

“Positive messages in a falling apart world” vem da minha análise e ponto de vista, num sentido mais global, acerca do mundo em que vivemos. Proponho-me a criar uma narrativa que entrelaça momentos catastróficos com pontos de luz que criam serenidade, tal como momentos de alívio e felicidade num mundo em constante degradação e guerra. Por isso baseei a peça num poema de Fernando Pessoa que retrata em pleno esta visão, quando “em plena vida e violência (…) a mente já desperta da noção falsa de viver”, “vê que pela janela aberta há uma paisagem toda incerta, um sonho todo a apetecer”.

“O Pensamento de Si” é um prelúdio orquestral cuja ideia sugere uma reflexão sobre o movimento em torno de si mesmo, ou de retorno a si mesmo, num questionar contínuo da possibilidade do próprio pensamento.

Hugo Vasco Reis

 

Imagem de Fundo
Anabela Becho, “Demasiada Luz Fere (entre o sangue e o fogo), 2013. Série de 21 pinturas sobre papel Fabriano de 350gr, técnica mista, com as dimensões de 70 x 100 cm. Instalação apresentada na Cisterna da Faculdade de Belas Artes, 2013.

“… Cada uma das camadas ocultando subtilmente a anterior, permitindo, por vezes, a revelação da tinta e dos diferentes matizes do negro.”
por Anabela Becho

2010

O Jardim

Inspirado no conto de Rubem Fonseca, “Henri”, o que aqui temos é uma variação desse mesmo conto.
Paris ocupada (1940) e Henry, o homem que não pode escapar a quem é.
O que nele habita não o deixa fugir, mesmo se há uma psicanalista que pode (ou poderia) servir-lhe de espelho redentor.
Sucede que quem mata e faz desse ofício a meticulosa tarefa de mergulhar dentro de si, não pode encontrar redenção.
É Henry, o florista. Ou de certo modo (ou de modo muito muito certo), somos nós todos: por detrás da aparente fragilidade que temos (as flores são essa fragilidade), vive em nós, neste tempo veloz e de rapina, o monstro que habita Henry.
Esta ópera foge, por isso mesmo, às convenções: é sobre uma figura moderna mas esquecida, o serial killer, o homem-monstro que, na sua ocupação diária, prova que estamos longe da humanidade que foi nossa um dia.

Em Memória | Okiya Flor, livremente inspirada no livro Memórias de uma Gueixa de Arthur Golden, realiza-se uma síntese dramática e poética das memórias de uma rapariga japonesa de olhos claros – a Aprendiza –, que perdeu a família no incêndio da sua aldeia e que, sem que lhe fosse dada escolha, foi admitida numa casa de gueixas (Okiya), pela respetiva proprietária e gerente – a Mãe. Na Okiya, a mais experiente (também a mais rentável) e mais bonita gueixa de todas – a Gueixa – vê a sua posição ameaçada por essa rapariga, que, com os seus tão raros olhos de água, poderá facilmente substituí-la, também na preferência do melhor cliente (e homem mais poderoso da região) – o Senhor -, o que vem a suceder. Porém, enquanto a Gueixa ama um jovem – o Rapaz – que não tem meios para a emancipar, mas com quem se encontra sem permissão, a Aprendiza apaixona-se pelo Senhor, acabando igualmente por ser preterida. Ambas se apercebem, então, da sua condição e, verdadeiramente, do valor da vida e da morte.

Lumière sans déclin foi escrito em 2002, sob encomenda do Festival “Jusqu’aux Oreilles” em Montréal, Canadá, e estreado pela orquestra Les Voix Baroques a 23 de Agosto do mesmo ano.

Foi-me pedido uma obra especificamente para instrumentos da época, e a clareza das texturas prende-se com este facto. O material temático da obra é todo derivado da melodia ouvida no início, que é um cântico bizantino utilizado no início das Matinas de Páscoa – “Vinde, recebei a luz da Luz sem ocaso”, e o espalhar da luz das velas que acontece neste momento é a imagem subjacente a esta peça.

Estoril, 8 de Setembro 2016

Ivan Moody

Evento/Concerto/Projecto Old is New (concerto 1)

Num multiverso coexistem diferentes universos, tais como o nosso, que no decorrer de milhões de anos expandem-se e contraem-se até colapsarem numa singularidade. Tendo em conta que é possível atravessar de um universo para o outro por meio de buracos negros e buracos brancos, é fácil se perder na imensidão do espaço. E da mesma forma que eventualmente na nossa pesquisa encontraremos pelo meio algum cataclismo estelar como a explosão de uma supernova, também é fácil ficar sozinho no meio de um grande vazio.

O grande ensemble permite acompanhar musicalmente a viagem, com múltiplos eventos a decorrerem em simultâneo ou uma grande força cósmica a orquestrar um tutti muito coeso. A história de cada um dos universos é contada por meio dos episódios de expansão e contração musicais, tanto no aspecto rítmico como no de densidade da textura. O que parecem simples instrumentos a brincarem com motivos simples como se fossem um particular jogo do esconde-esconde estelar, ganham rapidamente força e aquecem até grandes temperaturas, para terminar por arrefecer pelo efeito da expansão.

Ditados da Consciência é uma obra de cariz minimal repetitiva. Numa alusão à insistência da consciência de uma pessoa, ou de quase todas as pessoas, esta peça procura indagar, de um modo subjectivo, a dicotomia entre motivos verdadeiramente repetitivos, quais uma consciência um tanto ‘robótica’ do zeitgeist em que vivemos, e a idiossincrasia de um ser humano revelada por motivos ou frases melódicas, que se sobrepõem, ou não, a esse contínuo ascendente social, ou moral, sobre a individualidade que define cada um de nós.

2018

Disruption

Esta peça foi escrita a pedido do Professor C. Bochmann para o Grupo de Música Contemporânea da Universidade de Évora. O objectivo foi aproveitar as capacidades deste grupo de instrumentos pouco habitual, contrapondo o dinamismo dos ataques fortes do “tutti” com simples melodias fragmentadas por vários agrupamentos mais pequenos de instrumentos. A peça apresenta um forma A – B- A’.