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2017

Pianissimo

Pianissimo é uma peça para piano com orquestra de sopros e electrónica.
Não se trata de uma escrita propriamente concertante, com diálogos e alternâncias solista/tutti mas antes de uma peça para piano expandido timbricamente pelos sopros percussões e electrónica.
O Piano, instrumento que fez parte da minha formação de músico e que se constitui como uma preciosa ferramenta de trabalho na minha actividade enquanto compositor, significa harmonia, ressonância, mas também ritmo e percussão. São estas as principais linhas de força que guiaram a criação de pianíssimo.
Esta peça é dedicada aos meus amigos Ana Telles e Alberto Roque.

 

Carlos Caires

Philippina é uma dedicatória ao corpo vivo. Ao seu movimento. À sua capacidade de nunca ficar estático por completo. Todos os gestos musicais presentes querem refletir uma imagem de dois bailarinos e a sua linguagem corporal, a sua luminosidade.

Philippina Bausch foi a minha companhia. O maestro Alberto Roque, o João e o Marco, a minha certeza. A eles dedico esta revolução em mim.

Esta peça faz parte de um estudo que tenho vindo a desenvolver sobre gesto musical, com o tema: “Gesto – a Música sobre um plano coreográfico”. O objecto artístico final terá dois bailarinos em palco, acompanhados pelos solistas e pela orquestra.

A obra Sopro do Côncavo foi composta no âmbito do III Concurso Nacional de Composição da Banda Sinfónica Portuguesa tendo sido posteriormente premiada e dirigida na sua estreia pelo Maestro Pedro Neves, na Sala Suggia da Casa da Música, no Porto, em Fevereiro de 2015. [em 2017 a obra foi revista pelo compositor.] De uma perspetiva muito abstrata e direcionada para a forma da peça, assistimos três momentos que refiro nestas breves notas pela importância que eles representaram para mim na estrutura poética da obra. Inicialmente o vazio que nos leva à profundidade seguida por uma panorâmica de tensão. Concretizado o nascimento da peça, ouvimos um sopro, ganhamos a coragem para proferir o verbo, somos vivos e enérgicos. No fim, contraímos o peito para dentro, pouco a pouco voltamos atrás no tempo e morremos sozinhos, como era princípio (…). Sopro do Côncavo é um olhar sobre a criação, sobre a existência que parte deste vazio despido de conforto. Uma busca eterna pela solidão que reflete o ascendente mais nobre que há em nós. Sopro é a coragem para existir e a vontade de exprimir a poesia. Côncavo é o espaço que fica por detrás da origem, é a profundidade e a nova dimensão.

Pedro Lima Soares

“O Pensamento de Si” é um prelúdio orquestral cuja ideia sugere uma reflexão sobre o movimento em torno de si mesmo, ou de retorno a si mesmo, num questionar contínuo da possibilidade do próprio pensamento.

Hugo Vasco Reis

 

Imagem de Fundo
Anabela Becho, “Demasiada Luz Fere (entre o sangue e o fogo), 2013. Série de 21 pinturas sobre papel Fabriano de 350gr, técnica mista, com as dimensões de 70 x 100 cm. Instalação apresentada na Cisterna da Faculdade de Belas Artes, 2013.

“… Cada uma das camadas ocultando subtilmente a anterior, permitindo, por vezes, a revelação da tinta e dos diferentes matizes do negro.”
por Anabela Becho

2010

O Jardim

Inspirado no conto de Rubem Fonseca, “Henri”, o que aqui temos é uma variação desse mesmo conto.
Paris ocupada (1940) e Henry, o homem que não pode escapar a quem é.
O que nele habita não o deixa fugir, mesmo se há uma psicanalista que pode (ou poderia) servir-lhe de espelho redentor.
Sucede que quem mata e faz desse ofício a meticulosa tarefa de mergulhar dentro de si, não pode encontrar redenção.
É Henry, o florista. Ou de certo modo (ou de modo muito muito certo), somos nós todos: por detrás da aparente fragilidade que temos (as flores são essa fragilidade), vive em nós, neste tempo veloz e de rapina, o monstro que habita Henry.
Esta ópera foge, por isso mesmo, às convenções: é sobre uma figura moderna mas esquecida, o serial killer, o homem-monstro que, na sua ocupação diária, prova que estamos longe da humanidade que foi nossa um dia.

2017

Nadir

Esta obra nasceu duas vezes e morreu uma. Uma primeira versão foi iniciada no fim de 2016 que chegou aos 6 minutos até ser completamente amarrotada e deitada ao lixo. No início de 2017 comecei a escrever aquela que viria a ser a ‘verdadeira’ Nadir.

Foi esta morte que me impulsionou a escrever a obra da forma que ela existe agora – 6 minutos de música e meses do maior bloqueio criativo. Mote – usar as fraquezas como armas, usar o sofrimento como ferramenta.

Em Memória | Okiya Flor, livremente inspirada no livro Memórias de uma Gueixa de Arthur Golden, realiza-se uma síntese dramática e poética das memórias de uma rapariga japonesa de olhos claros – a Aprendiza –, que perdeu a família no incêndio da sua aldeia e que, sem que lhe fosse dada escolha, foi admitida numa casa de gueixas (Okiya), pela respetiva proprietária e gerente – a Mãe. Na Okiya, a mais experiente (também a mais rentável) e mais bonita gueixa de todas – a Gueixa – vê a sua posição ameaçada por essa rapariga, que, com os seus tão raros olhos de água, poderá facilmente substituí-la, também na preferência do melhor cliente (e homem mais poderoso da região) – o Senhor -, o que vem a suceder. Porém, enquanto a Gueixa ama um jovem – o Rapaz – que não tem meios para a emancipar, mas com quem se encontra sem permissão, a Aprendiza apaixona-se pelo Senhor, acabando igualmente por ser preterida. Ambas se apercebem, então, da sua condição e, verdadeiramente, do valor da vida e da morte.

Num multiverso coexistem diferentes universos, tais como o nosso, que no decorrer de milhões de anos expandem-se e contraem-se até colapsarem numa singularidade. Tendo em conta que é possível atravessar de um universo para o outro por meio de buracos negros e buracos brancos, é fácil se perder na imensidão do espaço. E da mesma forma que eventualmente na nossa pesquisa encontraremos pelo meio algum cataclismo estelar como a explosão de uma supernova, também é fácil ficar sozinho no meio de um grande vazio.

O grande ensemble permite acompanhar musicalmente a viagem, com múltiplos eventos a decorrerem em simultâneo ou uma grande força cósmica a orquestrar um tutti muito coeso. A história de cada um dos universos é contada por meio dos episódios de expansão e contração musicais, tanto no aspecto rítmico como no de densidade da textura. O que parecem simples instrumentos a brincarem com motivos simples como se fossem um particular jogo do esconde-esconde estelar, ganham rapidamente força e aquecem até grandes temperaturas, para terminar por arrefecer pelo efeito da expansão.

2015

Double

«Double» (2015) é uma peça composta para dois percussionistas brilhantes, Miguel Ferreira e Tomás Moital, para os quatro percussionistas que os acompanham e muito especialmente para a Orquestra de Sopros da Escola Superior de Música de Lisboa, no ano do seu 10º aniversário. O seu nome deve-se à natureza compósita dos seus solistas, que contagia os percussionistas da orquestra e todos os seus elementos, num jogo de espelhos de resultados imprevisíveis.

Depois de um primeiro momento, em que, como resultado do seu contracenar, vemos aparecer uma alternância entre secções mais estáticas e secções mais dinâmicas, surge uma secção calmíssima, sugerindo, por fim, um momento de sã convivência. Este momento é, no entanto, bruscamente interrompido por uma coda, em que os dois solistas reavivam a orquestra.

Esta peça é dedicada ao maestro Alberto Roque, pela muita estima e admiração que o seu trabalho me merece.

João Madureira

Ditados da Consciência é uma obra de cariz minimal repetitiva. Numa alusão à insistência da consciência de uma pessoa, ou de quase todas as pessoas, esta peça procura indagar, de um modo subjectivo, a dicotomia entre motivos verdadeiramente repetitivos, quais uma consciência um tanto ‘robótica’ do zeitgeist em que vivemos, e a idiossincrasia de um ser humano revelada por motivos ou frases melódicas, que se sobrepõem, ou não, a esse contínuo ascendente social, ou moral, sobre a individualidade que define cada um de nós.