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Obras | Compositores
«Double» (2015) é uma peça composta para dois percussionistas brilhantes, Miguel Ferreira e Tomás Moital, para os quatro percussionistas que os acompanham e muito especialmente para a Orquestra de Sopros da Escola Superior de Música de Lisboa, no ano do seu 10º aniversário. O seu nome deve-se à natureza compósita dos seus solistas, que contagia os percussionistas da orquestra e todos os seus elementos, num jogo de espelhos de resultados imprevisíveis.
Depois de um primeiro momento, em que, como resultado do seu contracenar, vemos aparecer uma alternância entre secções mais estáticas e secções mais dinâmicas, surge uma secção calmíssima, sugerindo, por fim, um momento de sã convivência. Este momento é, no entanto, bruscamente interrompido por uma coda, em que os dois solistas reavivam a orquestra.
Esta peça é dedicada ao maestro Alberto Roque, pela muita estima e admiração que o seu trabalho me merece.
João Madureira
A ideia inicial desta peça surgiu da minha vontade de explorar técnicas e efeitos tímbricos possíveis de obter no violoncelo, através do uso de harmónicos. A percussão, nomeadamente o vibrafone, surge como complemento ao violoncelo, tentando fundir os timbres obtidos num discurso que se desenvolve naturalmente, como “perguntas e respostas”, mas também como contraste a esta sonoridade, através de outros instrumentos de percussão de altura indefinida.
Mariana Vieira
Ausência |
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num País sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
Existe uma relação de poder entre criador e criatura:
Deus — Homem; Homem — máquina; pai — filho; autor — autoridade.
O desejo secular de todas as criaturas é passar além do criador.
Em “A Pedra de Sísifo” existe um criador e uma criatura.
Há também o momento em que Sísifo se senta a meio da colina, gesto dissidente contra o destino.
João Caldas
Sussurro de autómatos eléctricos, bzzz cling clang pim pum, o frémito dos utensílios e engenhos de todo o tipo que nos rodeiam o quotidiano, o contínuo entre concreto e abstracto, o ruído como bloco em bruto a partir do qual se esculpe um universo de possibilidades sonoras e, reciprocamente, os sons que em si carregam a memória ou a fantasia do ruído de onde brotaram. Puro e impuro. Um catálogo de transições, sinal quebrado, interrompido, cortado por intromissões, tanto ilídimas como forçosas. Uma melodia obstinada, ubíqua, uma vez e outra, a cada reinício numa roupagem única.
Nuno Trocado