Exibir artigos por etiqueta: Piano

Esta peça é inspirada em quatro terras do interior de Portugal: – Paul, na Beira-Baixa; Reguengos de Monsaraz, no Alentejo; Miranda do Douro e Paradela, em Trás-os-Montes. No interior de uma linguagem que não é tonal, modal, nem atonal; algumas melodias oriundas dessas terras habitam esta peça, por vezes de forma submersa, empoeirada, distorcida, desgastada pelos elementos, outras vezes de forma filtrada mais límpida e pura.

Carlos Marecos

Instrumento(s)

Esta é a última obra composta por José Luís Ferreira, colega e amigo que nos deixou em 2018. Spinning II (2017), para piano a quatro mãos, não foi estreada em vida do autor, não chegando sequer a existir o contacto entre compositor e intérpretes sobre a sua realização.

Fazendo José Luís Ferreira parte dos investigadores deste projecto, e tendo estes pianistas já privado com o compositor no contexto de outras obras, fez todo o sentido incluir a obra neste trabalho e assim deixar este registo da sua última criação.

A obra foi estreada a 14 de Maio de 2018 na Semana da Composição no auditório Vianna da Motta da ESML, repetida 22 de Maio no Festival Musica Viva e, 3 dias depois, novamente no Teatro Helena Sá e Costa da ESMAE no Porto, pelos mesmo intérpretes deste registo.

Instrumento(s)
2016

Saudade

Saudade, nem sei bem por onde começar ou explicar o seu significado.
O poema de Tiago Gonçalves Pereira que utilizei para escrever esta canção tem como tema o título desta peça e é descrito como um sentimento que se expressa de diferentes maneiras, inclusive nos momentos mais inesperados. Para mim, a Saudade é sem dúvida uns dos sentimentos mais belos no ser humano, mas também pode ser melancólica, quando o sentimento é a ausência de alguém.
Ao escrever esta canção procurei retratar musicalmente o seu conceito através da procura de diversas sonoridades e timbres, que permitissem criar diferentes momentos musicais, como momentos líricos ou dramáticos e dessa forma tentar expressar as diferentes manifestações da Saudade, entre as vozes e os instrumentos.
Esta peça tem um enorme significado para mim, pois é dedicada aos meus dois avôs que já faleceram. Nesta peça está contida a minha expressão de Saudade por eles. Mas por outro lado, esta peça também marcou o início da procura de uma nova linguagem musical e por essa razão tive um enorme prazer em escrevê-la e sem dúvida tem um grande valor pessoal.

João Fonseca e Costa

Evento/Concerto/Projecto Semana da Composição 2016

Suspiros e exaltações de um homem que contempla a sua morte e, após esta, a vida acinzentada da pessoa que ama. Um poema de Ruy Belo cantado e vivido ao piano.

Quando eu um dia definitivamente voltar a face
daquelas coisas que só de perfil contemplei,
quem procurará nelas as linhas do teu rosto?
Quem dará o teu nome a todas as ruas
que encontrar no coração e na cidade?
Quem te porá como fruto nas árvores ou como paisagem
no brilho de olhos lavados nas quatro estações?
Quando toda a alegria for clandestina
alguém te dobrará a cada esquina?

Evento/Concerto/Projecto Semana da Composição 2018
Instrumento(s)

“Positive messages in a falling apart world” vem da minha análise e ponto de vista, num sentido mais global, acerca do mundo em que vivemos. Proponho-me a criar uma narrativa que entrelaça momentos catastróficos com pontos de luz que criam serenidade, tal como momentos de alívio e felicidade num mundo em constante degradação e guerra. Por isso baseei a peça num poema de Fernando Pessoa que retrata em pleno esta visão, quando “em plena vida e violência (…) a mente já desperta da noção falsa de viver”, “vê que pela janela aberta há uma paisagem toda incerta, um sonho todo a apetecer”.

Esta obra é dedicada ao meu amigo e jovem compositor polaco Jakub Montewka.Após uma conversa com este meu compositor amigo sobre a relação entre música e luz / cor, decidi explorar profundamente essa mesma ideia e daí surgiu esta obra. “Lekki” significa luzsuave em polaco e “Po”, é um prefixo que acrescentei, seguido o estilo do grande poeta Bolesław Leśmian, desta forma procurei uma maior proximidade fonética ao vocábulo“polaco”.
Tem uma estrutura simples de ABA. Melodicamente situa-se algures entre Richard Strauss e Béla Bartok, e harmonicamente fui buscar muito de Claude Debussy e Olivier Messiaen.

Embora a ideia de cor esteja mais relacionada à harmonia do que à melodia, na primeira parte, numa região circundante de Lá m a melodia desempenha o papel principal – é a melodia que define a harmonia, e não o contrário.
Na segunda parte, a música ganha mais variedade de texturas, começa em pianíssimona parte mais grave do piano, e vai ganhando intensidade – com um progressivo crescendo, uma aceleração e um aumento no registo – atingindo um clímax.
No início desta segunda parte (que é construída sobre as quatro dominantes de Lámenor) surge um tema simples, inspirado numa canção folclórica de berço transmontana, “Ó ó ó meu menino ó”. Toda a segunda parte vive da variação e do desenvolvimento deste tema.
Na recapitulação, retornamos ao território próximo a Lá menor, mas agora o tema é mais disperso, permanecem algumas das texturas e tensões da parte central, mas no final tudo termina num fulgente Lá Maior, com uma invocação discreta da música do berço no registo mais agudo.
O número de ouro é a base de toda a estrutura, que presta vassalagem a um extremo rigor matemático. Porque razão procurei uma estrutura tão matemática? Porque a luz é por natureza a mais matemática das essências – a luz é perfeitamente numérica, tem sempre a mesma velocidade, a mesma linearidade. Chamamos às proporções em luz de cor, geralmente associamos cor com harmonia – porém as proporções, que existem sem dúvida na harmonia, existem primeiro e permanentemente na estrutura.
A ideia de “lekki” marca também o ambiente da obra, trata-se sempre duma luz suave, duma luz fria, omnipresente na textura e no carácter da obra que é sempre gélido, não se trata por isso duma luz que aquece, não é uma luz mediterrânica.

Evento/Concerto/Projecto Semana da Composição 2020
Instrumento(s)
2017

Pianissimo

Pianissimo é uma peça para piano com orquestra de sopros e electrónica.
Não se trata de uma escrita propriamente concertante, com diálogos e alternâncias solista/tutti mas antes de uma peça para piano expandido timbricamente pelos sopros percussões e electrónica.
O Piano, instrumento que fez parte da minha formação de músico e que se constitui como uma preciosa ferramenta de trabalho na minha actividade enquanto compositor, significa harmonia, ressonância, mas também ritmo e percussão. São estas as principais linhas de força que guiaram a criação de pianíssimo.
Esta peça é dedicada aos meus amigos Ana Telles e Alberto Roque.

 

Carlos Caires

Philippina é uma dedicatória ao corpo vivo. Ao seu movimento. À sua capacidade de nunca ficar estático por completo. Todos os gestos musicais presentes querem refletir uma imagem de dois bailarinos e a sua linguagem corporal, a sua luminosidade.

Philippina Bausch foi a minha companhia. O maestro Alberto Roque, o João e o Marco, a minha certeza. A eles dedico esta revolução em mim.

Esta peça faz parte de um estudo que tenho vindo a desenvolver sobre gesto musical, com o tema: “Gesto – a Música sobre um plano coreográfico”. O objecto artístico final terá dois bailarinos em palco, acompanhados pelos solistas e pela orquestra.

2015

Oglinda

Esta peça surgiu de uma forma que pode não parecer convencional, mas que, na realidade, é relativamente comum nos compositores mais intuitivos: a aparição de uma ideia musical momentos antes de adormecer, e que consequentemente nos faz despertar e começar a compor.
Neste caso, foi a melodia inicial, que despoletou de imediato a secção que se lhe segue. Como resultado, uma pequena peça para piano solo que se relaciona bastante com a minha personalidade, não só pelo seu caráter harmónico e melódico, como pela forma, através da alternância entre ambientes distintos num curto espaço de tempo.

Manuel Moreira

Evento/Concerto/Projecto Peças Frescas 2015
Instrumento(s)

A obra Sopro do Côncavo foi composta no âmbito do III Concurso Nacional de Composição da Banda Sinfónica Portuguesa tendo sido posteriormente premiada e dirigida na sua estreia pelo Maestro Pedro Neves, na Sala Suggia da Casa da Música, no Porto, em Fevereiro de 2015. [em 2017 a obra foi revista pelo compositor.] De uma perspetiva muito abstrata e direcionada para a forma da peça, assistimos três momentos que refiro nestas breves notas pela importância que eles representaram para mim na estrutura poética da obra. Inicialmente o vazio que nos leva à profundidade seguida por uma panorâmica de tensão. Concretizado o nascimento da peça, ouvimos um sopro, ganhamos a coragem para proferir o verbo, somos vivos e enérgicos. No fim, contraímos o peito para dentro, pouco a pouco voltamos atrás no tempo e morremos sozinhos, como era princípio (…). Sopro do Côncavo é um olhar sobre a criação, sobre a existência que parte deste vazio despido de conforto. Uma busca eterna pela solidão que reflete o ascendente mais nobre que há em nós. Sopro é a coragem para existir e a vontade de exprimir a poesia. Côncavo é o espaço que fica por detrás da origem, é a profundidade e a nova dimensão.

Pedro Lima Soares