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Obras | Compositores
A escrita desta obra deu-se no âmbito do meu mestrado em composição cujo objeto de estudo é a relação da pintura com a composição musical. Neste sentido, a escrita desta obra iniciou-se pelo estímulo visual de uma pintura de Wassily Kandinsky e da reflexão sobre o livro de Rudolf Arnheim: O Poder do Centro.
Os fatores determinantes na escolha da pintura foram a sua beleza e o facto de conter figuras geométricas bastante precisas – círculos, triângulos, linhas retas, entre outros – que parecem ter sido feitos com régua. O cuidado de escolher formas geométricas precisas, deve-se à definição dos seus contornos, possibilitando uma maior clareza dos gestos melódicos e harmónicos.
A peça em questão será “Puis qu’en oubli”, da autoria de Guillaume de Machaut (ca. 1300–1377). A obra original vai sendo gradualmente transfigurada em algo que pouco (ou nada) tem a ver com o seu material de origem, modificando-se, distorcendo-se, expandindo-se… enfim… sabe-se lá que caminho a música seguirá daqui em diante… ou melhor… sabe-se… ou não… ou sim… ou não…
João Llano
Cinco sensações… Dor. Histeria. Paz. Ansiedade. Liberdade. Todos nós já as vivemos, já as sentimos, já as ouvimos… Individualmente, ou ao mesmo tempo, estas sensações já se apoderaram de nós! E é assim, com estas cinco sensações que devemos ouvir esta música, pois cada andamento tenta retratar cada uma delas…a angústia da dor, a inquietação da histeria, a calma da paz, o nervosismo da ansiedade, e a inconstância da liberdade…
Ana Catarina Barros
Saudade, nem sei bem por onde começar ou explicar o seu significado.
O poema de Tiago Gonçalves Pereira que utilizei para escrever esta canção tem como tema o título desta peça e é descrito como um sentimento que se expressa de diferentes maneiras, inclusive nos momentos mais inesperados. Para mim, a Saudade é sem dúvida uns dos sentimentos mais belos no ser humano, mas também pode ser melancólica, quando o sentimento é a ausência de alguém.
Ao escrever esta canção procurei retratar musicalmente o seu conceito através da procura de diversas sonoridades e timbres, que permitissem criar diferentes momentos musicais, como momentos líricos ou dramáticos e dessa forma tentar expressar as diferentes manifestações da Saudade, entre as vozes e os instrumentos.
Esta peça tem um enorme significado para mim, pois é dedicada aos meus dois avôs que já faleceram. Nesta peça está contida a minha expressão de Saudade por eles. Mas por outro lado, esta peça também marcou o início da procura de uma nova linguagem musical e por essa razão tive um enorme prazer em escrevê-la e sem dúvida tem um grande valor pessoal.
João Fonseca e Costa
Prana (sopro de vida) é, segundo as antigas escrituras da filosofia hindu, a energia vital universal que premeia o cosmos, absorvida pelos seres vivos através do ar que respiram. Acredita-se que utilizando vários gestos respiratórios, afim de exercitar e controlar a respiração, é possível controlar a fluidez da energia vital atingido determinados estados de espírito. Traduzir este arquétipo para um discurso musical foi umas das principais energias impulsionadoras para criação destas peça. A sua estrutura foi definida através de diferentes gestos esboçados com intuito de imitar um exercício respiratório, que se configura através de uma espécie de tensão (inspiração), distensão (expiração). Ao contorno (gesto global) que daí resulta e que se repete é aplicado um processo de variação, baseado na conjugação de elementos constantes com elementos variáveis. Este processo pode ser observado a uma micro escala ( dentro de uma secção) bem como a uma macro-escala (entre diferentes secções).
“Positive messages in a falling apart world” vem da minha análise e ponto de vista, num sentido mais global, acerca do mundo em que vivemos. Proponho-me a criar uma narrativa que entrelaça momentos catastróficos com pontos de luz que criam serenidade, tal como momentos de alívio e felicidade num mundo em constante degradação e guerra. Por isso baseei a peça num poema de Fernando Pessoa que retrata em pleno esta visão, quando “em plena vida e violência (…) a mente já desperta da noção falsa de viver”, “vê que pela janela aberta há uma paisagem toda incerta, um sonho todo a apetecer”.
“O Pensamento de Si” é um prelúdio orquestral cuja ideia sugere uma reflexão sobre o movimento em torno de si mesmo, ou de retorno a si mesmo, num questionar contínuo da possibilidade do próprio pensamento.
Hugo Vasco Reis
Imagem de Fundo
Anabela Becho, “Demasiada Luz Fere (entre o sangue e o fogo), 2013. Série de 21 pinturas sobre papel Fabriano de 350gr, técnica mista, com as dimensões de 70 x 100 cm. Instalação apresentada na Cisterna da Faculdade de Belas Artes, 2013.
“… Cada uma das camadas ocultando subtilmente a anterior, permitindo, por vezes, a revelação da tinta e dos diferentes matizes do negro.”
por Anabela Becho
Inspirado no conto de Rubem Fonseca, “Henri”, o que aqui temos é uma variação desse mesmo conto.
Paris ocupada (1940) e Henry, o homem que não pode escapar a quem é.
O que nele habita não o deixa fugir, mesmo se há uma psicanalista que pode (ou poderia) servir-lhe de espelho redentor.
Sucede que quem mata e faz desse ofício a meticulosa tarefa de mergulhar dentro de si, não pode encontrar redenção.
É Henry, o florista. Ou de certo modo (ou de modo muito muito certo), somos nós todos: por detrás da aparente fragilidade que temos (as flores são essa fragilidade), vive em nós, neste tempo veloz e de rapina, o monstro que habita Henry.
Esta ópera foge, por isso mesmo, às convenções: é sobre uma figura moderna mas esquecida, o serial killer, o homem-monstro que, na sua ocupação diária, prova que estamos longe da humanidade que foi nossa um dia.