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Obras | Compositores
O Primeiro Ciclo deste projecto iniciou-se com as presenças da Compositora Isabel Soveral, que esteve à conversa com o violinista José Machado, em torno da obra "Anamorphoses III" (1995), para violino e electrónica.
A segunda sessão do Ciclo II a acontecer no próximo dia 12 de Fevereiro, conta com as presenças do Compositor Virgílio Melo, que estará à conversa com a violinista Beatriz Morais, em torno da obra “Sefer”, para violino e electrónica.
A escrita desta obra deu-se no âmbito do meu mestrado em composição cujo objeto de estudo é a relação da pintura com a composição musical. Neste sentido, a escrita desta obra iniciou-se pelo estímulo visual de uma pintura de Wassily Kandinsky e da reflexão sobre o livro de Rudolf Arnheim: O Poder do Centro.
Os fatores determinantes na escolha da pintura foram a sua beleza e o facto de conter figuras geométricas bastante precisas – círculos, triângulos, linhas retas, entre outros – que parecem ter sido feitos com régua. O cuidado de escolher formas geométricas precisas, deve-se à definição dos seus contornos, possibilitando uma maior clareza dos gestos melódicos e harmónicos.
A peça em questão será “Puis qu’en oubli”, da autoria de Guillaume de Machaut (ca. 1300–1377). A obra original vai sendo gradualmente transfigurada em algo que pouco (ou nada) tem a ver com o seu material de origem, modificando-se, distorcendo-se, expandindo-se… enfim… sabe-se lá que caminho a música seguirá daqui em diante… ou melhor… sabe-se… ou não… ou sim… ou não…
João Llano
Tertúlia (2018) é uma obra composta para o Grupo de Música Contemporânea da Universidade de Évora; é uma de dez peças escritas para a respectiva formação anual deste grupo.
A peça é uma sequência de várias secções de características diferentes. A duração variável de cada uma destas secções define certos pesos diferentes e constantemente flutuantes, alterando assim a perspectiva com que se aprecia cada tipo de música.
Em termos objetivos, a forma é: ABACBADBCABDCDE. Cada uma das secções A, Be Cé de tamanho diferente; apenas a secção De sempre do mesmo tamanho. A secção E(a última) é a maior de todas.
A pluralidade de tipos diferentes de música e as intervenções alternadas de todos os instrumentos cria uma verdadeira mesa redonda em que todos têm a oportunidade de contribuir à conversa musical coletiva.
Saudade, nem sei bem por onde começar ou explicar o seu significado.
O poema de Tiago Gonçalves Pereira que utilizei para escrever esta canção tem como tema o título desta peça e é descrito como um sentimento que se expressa de diferentes maneiras, inclusive nos momentos mais inesperados. Para mim, a Saudade é sem dúvida uns dos sentimentos mais belos no ser humano, mas também pode ser melancólica, quando o sentimento é a ausência de alguém.
Ao escrever esta canção procurei retratar musicalmente o seu conceito através da procura de diversas sonoridades e timbres, que permitissem criar diferentes momentos musicais, como momentos líricos ou dramáticos e dessa forma tentar expressar as diferentes manifestações da Saudade, entre as vozes e os instrumentos.
Esta peça tem um enorme significado para mim, pois é dedicada aos meus dois avôs que já faleceram. Nesta peça está contida a minha expressão de Saudade por eles. Mas por outro lado, esta peça também marcou o início da procura de uma nova linguagem musical e por essa razão tive um enorme prazer em escrevê-la e sem dúvida tem um grande valor pessoal.
João Fonseca e Costa
Prana (sopro de vida) é, segundo as antigas escrituras da filosofia hindu, a energia vital universal que premeia o cosmos, absorvida pelos seres vivos através do ar que respiram. Acredita-se que utilizando vários gestos respiratórios, afim de exercitar e controlar a respiração, é possível controlar a fluidez da energia vital atingido determinados estados de espírito. Traduzir este arquétipo para um discurso musical foi umas das principais energias impulsionadoras para criação destas peça. A sua estrutura foi definida através de diferentes gestos esboçados com intuito de imitar um exercício respiratório, que se configura através de uma espécie de tensão (inspiração), distensão (expiração). Ao contorno (gesto global) que daí resulta e que se repete é aplicado um processo de variação, baseado na conjugação de elementos constantes com elementos variáveis. Este processo pode ser observado a uma micro escala ( dentro de uma secção) bem como a uma macro-escala (entre diferentes secções).
“Positive messages in a falling apart world” vem da minha análise e ponto de vista, num sentido mais global, acerca do mundo em que vivemos. Proponho-me a criar uma narrativa que entrelaça momentos catastróficos com pontos de luz que criam serenidade, tal como momentos de alívio e felicidade num mundo em constante degradação e guerra. Por isso baseei a peça num poema de Fernando Pessoa que retrata em pleno esta visão, quando “em plena vida e violência (…) a mente já desperta da noção falsa de viver”, “vê que pela janela aberta há uma paisagem toda incerta, um sonho todo a apetecer”.
Esta peça é um estudo sobre possibilidades de interação entre o violino e sons electrónicos, e pretende ter uma abordagem didática à prática da música mista. Os sons electrónicos derivam ora de sons sintetizados, sons de violino ou outros sons concretos que procuram estabelecer uma ligação principalmente gestual, mas também harmónica, com a parte de violino.
“O Pensamento de Si” é um prelúdio orquestral cuja ideia sugere uma reflexão sobre o movimento em torno de si mesmo, ou de retorno a si mesmo, num questionar contínuo da possibilidade do próprio pensamento.
Hugo Vasco Reis
Imagem de Fundo
Anabela Becho, “Demasiada Luz Fere (entre o sangue e o fogo), 2013. Série de 21 pinturas sobre papel Fabriano de 350gr, técnica mista, com as dimensões de 70 x 100 cm. Instalação apresentada na Cisterna da Faculdade de Belas Artes, 2013.
“… Cada uma das camadas ocultando subtilmente a anterior, permitindo, por vezes, a revelação da tinta e dos diferentes matizes do negro.”
por Anabela Becho